Off - Procurando Nemo

– Huh? Não era para ter saído? Bom, agora já foi. – Na verdade não me importei muito com a pergunta ou se teria alguma consequência, se a finalidade era dormir, e não há necessidade de dormir, então não tinha porque ficar no quarto de todo jeito. – E a comida que eles dão… Arrghh! Não é tão gostoso quando a comida não tenta fugir… Aarrgghh!! – Sentia repulsa só de lembrar daquela taça cheia de sangue com gosto de nada, sendo vampira fiquei até ofendida.

– Luau é… Não me lembro muito desses… – A Dona Espadinha falou que era um lugar com bastante comida reunida ao ar livre, minha imaginação começava a fluir, um sorriso divertido surgia no meu semblante ansiando por um banquete.

– Sniff! Sniff! …aaahhrrff arrff arrff… Sniff! Sniff! – De repente minha mente ficou vazia, sentindo o cheiro bom se aproximando. – Comida… Perto. – Começava a arfar esfomeada, os olhos ardendo em vermelho, a saliva pingava no canto da boca, já fazia um bom tempo desde a última refeição de qualidade. O cheiro ia ficando mais intenso, e mais difícil de ignorar, eu já não estava mais raciocinando direito. – Vem! – “Guardei” a Dona Espadinha comigo, na verdade engoli ela.

O desafortunado em questão era um jovem adulto quem nem terminou de gritar e já não lhe restava mais esperança de chegar ao luau, quando se deparou com a minha figura bestial cortando o ar numa rasante, no momento seguinte só restou a ele tentar se debater aprisionado por meu corpo, o rapaz apenas caiu no chão sem vida, estava todo ressecado cheio de furinhos espalhados no corpo.

– Fhuaaaarr! – Me sentia totalmente revigorada, abria um largo sorriso radiante lambendo os lábios e estalando a língua, sentindo os nutrientes me fortalecendo. – Sangue fresquinho é sempre o melhor. Sim! Sim! – Com essa pausa para o lanchinho da noite meu humor melhorou consideravelmente.

– Ah éh! Eu te guardei. – Escurava os protestos da dona espadinha se debatendo, então abri a boca puxando ela para fora do meu corpo fluído. – Luau! Luau! Luau! – Ficava toda serelepe e cantarolante, empunhando a dona espada e balançando ela enquanto caminhava até a praia.

– Ohhhh! – Chegando no local era bem como a dona espada falou. – Unhum! Unhum! Só falta por no espeto. – Me deslumbrava com aquele monte de gente despreocupada tudo reunida. – Será que consigo amarrar todos eles… – Não era nem por mal, mas a minha mente começava a bolar planos de capturar todos aqueles humanos fresquinhos.

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A dona escadinha parecia não feliz, mas dizia querer estar sempre comigo que confuso. – Huuhmm… – Ficava encarando piscando os olhos tentando decifrar aquele modo de comunicação. – Ohh! Entendi! – Fazia sim com a cabeça quando uma lâmpada parecia acender na minha mente. – Foi porque eu comi tudo. – Só podia ser essa a justificativa da espada parecer atentar contra minha vida. – É que eu tava com taaaaaanta fominha… E o humano tava tãããão apetitoso…– Sorria toda inocente afagando os cabelos por trás da cabaço ainda apreciando o sabor residual no paladar. – Mas da próxima vez eu tento dividir… Se eu lembrar… – Era minha forma de apaziguar os ânimos bem relaxada sem nenhuma gota de preocupação.

Mas tal conclusão me causava outra dúvida, segurando a dona espadinha nas duas mãos eu ficava virando e girando ela na frente dos meus olhos, analisando as minúcias de ponta a ponta. – Espada espadinha… Huuummmmmm… –  Antes de fazer a perguntar eu prosseguia com minha pesquisa tentando descobrir por conta própria, mas sem obter respostas satisfatórias precisei externar a curiosidade. – Você caga? – Perguntava na mais pura inocência.

A dona escadinha vinha se emaranhando igual cola em mim, a minha mente começava a ligar uns pontos. – Você tá pelada né… Huhhmmm… Também não entendo o porque mas a Zhizhi disse que era para eu me cobrir na frente dos outros… – Refletia solitária chegando a conclusão de que essa lógica também deveria se aplicar a dona espadinha. – Melhor? – Do meu corpo moldava uma bainha macia ao redor da lâmina indo até a guarda, por dentro bem acolchoada com tecido fofinho e quentinho.

– Uffff… Não grita assim na cabeça dos outros… – Reclamava julgando a atitude da dona espada com desaprovação. – Haaããhm… Mas só vou saber quando tentar. – Bem empolgada eu respondia a objeção da espada, que duvidava da minha capacidade de devorar todos aqueles humanos suculentos.

Antes de prosseguir com a fala eu coçava a ponta do nariz com o dedo indicador sorrindo super convencida. – É por isso que pensei em amarrar todos eles. – Estufava o busto com as mãos prostradas na cintura numa pose orgulhosa afinal havia pensado em tudo. – Fufufu… Amarrados eles não fogem… E teremos a festa toda só nossa. – Fazia sim repetidas vezes com a cabeça, concordando com a minha brilhante idéia.

– Haaamrrhh… – Arqueava a sobrancelha reprovando a sugestão da dona espada antes de responder. – … – Ficava um tempo em silêncio fazendo não com a cabeça enfatizando a reprovação, ao mesmo tempo pensando em quais palavras escolher para explicar meu ponto. – A comida é apenas comida, quando tenho fome eu como, humanos são apenas isso. – Era uma lógica simplista, não via necessidade nenhuma de tentar enganar os humanos, como se alguém precisasse enganar a macieira para colher as maçãs, você só vai lá e pega.

Vamos ao próximo indagamento. – Nascer, crescer, procriar… O ciclo natural de toda espécie… Mas… Procriar com humanos… Uurrghh! – Me dava até um troço ruim pensar nisso, porque um caçador iria procriar com a caça. – Dito isso… Foi assim que nasci… – Era um tanto complicado pensar nisso, as engrenagens na minha cabeça girando a todo vapor até a cabeça doer tentando encontrar uma explicação aceitável, mas sem grandes sucesso. – Será que existem humanos que não são de comer? Hmm… – Foi a explicação mais perto de aceitável.

– Eles parecem inquietos… – Fitava os humanos com o canto dos olhos notando que a minha presença causava problemas para alguns deles. – Será que!? – Toda sorridente eu encontrava uma justificativa plausível. – Eles sentem a minha aura predatória e tentam se proteger por instinto. – Sorria confiante de que sim, era exatamente isso.

– Rruurrff… Você não tem modos mesmo… – Repreendia a dona espadinha de novo, antes gritando dentro da minha cabeça e agora me arrastando para os lados. – É só avisar onde quer ir. – Caminhava na direção da música que ia ficando mais alta e contagiante conforme nos aproximávamos.

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