A Busca de um Samurai Difunto por Redenção

Subas se encontrava agora na fronteira do Continente de Satar, abandonando a escuridão eterna do Reino Nightgale. À sua frente, estendia-se o vasto Reino de Moriase, uma terra de luz e vida que prometia novas aventuras e, talvez, a redenção que ele tanto buscava.

Em sua existência como um samurai difunto, Subas havia enfrentado o inimaginável e aprendido a viver com a solidão em um mundo que não o compreendia. Agora, deixava para trás a terra que nunca amanhecia, buscando respostas e uma possibilidade de paz sob um novo amanhecer. Ao cruzar a fronteira, a mudança de atmosfera era palpável, mesmo para ele. Onde antes apenas a escuridão e o silêncio reinavam, agora a vida pulsava em uma cacofonia de sons e cores. A luz do sol, uma sensação estranha e distante, agora se fazia presente, banhando o mundo ao seu redor em uma aura dourada.

Embora ainda não pudesse sentir o calor do sol, a luz em si era uma mudança bem-vinda. Subas viu-a como um símbolo da nova fase que começava. Ele, que havia caminhado na sombra da morte por tanto tempo, agora caminhava em direção à luz. Assim, Subas Chupaku, o samurai difunto, iniciou uma nova etapa de sua jornada.

O vilarejo para o qual Subas Chupaku caminhou estava escondido nas dobras suaves das colinas, quase como se estivesse se aninhando contra o verde vibrante da paisagem. Era um lugar tão pequeno que mal deixava uma impressão no vasto tapeçário do Reino de Moriase. Seu nome, insignificante em comparação às grandes cidades e castelos do continente, era conhecido apenas por seus moradores.

No momento em que Subas Chupaku adentrou o pequeno vilarejo, um grupo de crianças armadas se lançou contra ele, com olhares assustados e movimentos desajeitados. Subas, no entanto, não sentiu nenhuma intenção maliciosa vindo delas. O que ele percebeu, em vez disso, foi o medo puro e sincero que brilhava em seus olhos, o medo de uma ameaça desconhecida. E, em certo sentido, Subas entendia esse medo.

Então, em vez de se defender ou atacar, Subas permitiu que as crianças o atacassem. Ele suportou suas tentativas de luta, seus golpes ineficazes e sua coragem frágil. Ele permaneceu imóvel e tranquilo com sua expressão impassível enquanto as crianças faziam o que podiam para proteger seu vilarejo. Até que por fim, exaustas e confusas, as crianças conseguiram "render" Subas. Ele se ajoelhou, colocando as mãos para cima em um gesto simbólico de rendição. Para as crianças, pode ter parecido uma grande vitória, mas para Subas, era apenas uma tentativa de aliviar seus medos.

- Calma, calma... eu me rendo..

Ele sabia que teria que ganhar a confiança das pessoas do vilarejo se quisesse ficar ali. E assim, ele se permitiu ser "capturado" pelas crianças, na esperança de que, através desse pequeno gesto, ele pudesse começar a construir uma ponte de compreensão entre ele e os habitantes do vilarejo.

Ao se ajoelhar em sinal de "rendição", Subas permitiu que seu olhar percorresse o vilarejo. Procurava por algum sinal de adultos, alguém com autoridade que pudesse acalmar as crianças. No entanto, para seu espanto, não encontrou ninguém além das crianças. O vilarejo, que a princípio parecia tão pacífico e idílico, agora exibia uma faceta inquietante. Casas bem conservadas, jardins cuidados e a fumaça que subia de algumas chaminés indicavam que ali deveria haver vida adulta, mas tudo o que Subas via eram crianças.

-...Ei garotos, onde estão os seus pais?

Histórico:

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Enquanto Subas observava o estado das crianças, notou que seus rostos estavam sujos, suas roupas rasgadas, suas expressões de medo, tudo estava tão fora do comum que uma determinação sombria tomou conta dele. Ignorando as enxadas e garfos espetados em seu corpo, ele se rendeu e perguntou sobre a localização dos adultos.

Foi então que uma das crianças se aproximou. Tratava-se de uma menina corpulenta, mais alta que as outras, com uma fileira de dentes grandes e uma expressão de pura resolução. Ela parecia ser a mais velha do grupo, e seus olhos carregavam a dura sabedoria que vem com a responsabilidade prematura.

Subas se abaixou para ficar no mesmo nível da menina e ela olhou para ele com olhos destemidos. Depois de um momento, ela começou a falar com sua voz trêmula, mas clara.


- Não sabemos o que você é, mas se for um daqueles monstros do cemitério, saiba que não nos renderemos facilmente - ela disse, encarando Subas - Nosso vilarejo costumava ser um lugar pacífico. Mas tudo mudou quando o cemitério nos arredores da vila começou a... a trazer os mortos de volta.

-Minha nossa senhora… Que coisa assustadora! - Falou Subas em espanto.

Ela engoliu em seco antes de continuar - Havia um coveiro, um velho gentil que cuidava do cemitério. Mas algo aconteceu e ele desapareceu. Desde então, os mortos começaram a se levantar. Nossos pais, nossos vizinhos... eles partiram para lutar contra essas criaturas. Eles disseram que nos protegeriam, que tudo ficaria bem… mas… - Lágrimas começaram a escorrer pelo rosto sujo da menina, mas ela as enxugou rapidamente - …Mas eles não voltaram... A última vez que os vimos foi na lua cheia, há cerca de duas semanas. Estamos aqui sozinhos desde então.

Subas ouviu atentamente, a seriedade da situação corroía o seu intimo. Ali, naquele lugar pacífico e idílico, um mal inimaginável se desenrolava, o mesmo mal que havia lhe sentenciado à um destino sem descanso agora deixava as pobres crianças desamparadas. Naquele momento, Subas soube que não poderia ficar de braços cruzados.

Com um semblante sério, Subas se ergueu. A luz da determinação era a unica coisa naquele momento que fazia seus olhos mortos brilharem. Ele tinha uma missão a cumprir, tinha pessoas indefesas para proteger. Então ele se levantou, apoiou a mão no cabo de sua katana, e finalmente, com sua voz firme, ele se dirigiu às crianças:



- Onde fica o cemitério? - Ele perguntou, olhando diretamente para a menina corpulenta e dentuça que havia falado antes.

Após receber as instruções, Subas assentiu e falou novamente, desta vez com um tom de promessa - Vou verificar o que está acontecendo - disse ele - Farei o que estiver ao meu alcance para resolver isso…Prometo a vocês que não estão mais sozinhos nesta luta.


E com isso o samurai difunto, partiu na direção do cemitério, deixando para trás um vilarejo de crianças e levando consigo a promessa de um futuro melhor.

Histórico:

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