[Narrada/Fechada/+18] Capturados em Alto Mar

As ações dos prisioneiros ocorreram com uma curta diferença, tendo Valkie sendo a primeira figura a iniciar as ações. De maneira sucinta, o pássaro atravessou ambos os oponentes com facilidade, eles não pareciam ter as capacidades necessárias para se opor ao movimento ágil e banhado pelo próprio vento. Tal movimento tinha finalizado a dupla? Não, mas havia deixado um membro superior de cada um deles incapacitado. De qualquer forma, a caveira tentava alertar [nesse meio tempo] o Orc das suas ações, que por sua vez, cessou os socos que, aos poucos, estava conseguindo romper a densa camada de madeira que formava aquele navio.

As palavras do lobo-homem ecoavam pelo interior do navio enquanto a dupla inimiga se colocava em uma posição de combate, sendo explícita a dor que sentiam em seus membros feridos, mas, até aquele momento eles ainda contavam com o desejo da vitória. Aquilo permaneceu por muito tempo? Não mesmo. A transformação do Lycan os pegou de surpresa, aquela figura grotesca que aumentou de tamanho, banhou pelos, garras e dentes afiados. Eles tiveram tempo de reagir? Não, suas mentes já tinham sido tomadas pelo mais puro medo.

O avanço bestial ocorreu e de maneira simples a dupla foi morta. As garras atravessaram a camada de gordura existente em seus corpos, tocando a parte mais funda do frágil corpo humano. O sangue escorria pelos ferimentos como uma verdadeira cachoeira, assim como os órgãos brigavam para sair pelos espaços criados por Deucalion. Entretanto, diferente dos pobres homens que ali pereceram, a figura amarela avançou de maneira instintiva em direção ao sons da ação, acertando um soco nas costas do lobo que o empurrou alguns centímetros para frente. O rugido foi disparado por parte do ogro, mas Deucalion poderia sentir o medo instaurado naquela ação, era como uma presa desesperada para não morrer. Ele havia visto o que tinha ocorrido? Claro que não! Porém, de alguma forma ele parecia sentir que a própria morte estava ali.

A dupla de prisioneiros não encontrou dificuldade para atravessar a extensão interior do navio, passando como um verdadeiro jato entre alguns dos tripulantes que estavam descendo para averiguar a situação. A visão do mar chocava o pobre pássaro, no entanto, ele conseguia manter sua mente ligeiramente estável e bem, conseguia ver cerca de sete homens no convés, tendo passado por mais três durante seu caminho, conseguiam notar que haviam, ao todo, doze tripulantes [contando com o capitão]. O destaque vinha para uma figura de barba grande e grisalha, carregava em sua cabeça um chapéu com o símbolo de caveira com ossos cruzados, seria esse um servo de Kraezis? Não, não parecia este o caso.

- MATEM OS PRISIONEIROS! - Que burro era o capitão, como será possível matar uma caveira que já está morta? Bem, eles iriam tentar. Alguns homens subiam em um dos membros [tinham dois ao todo] e começavam a se balançar como verdadeiros “tarzans”, tentando chegar próximo ao pássaro e seu companheiro, buscando acertar cortes com as espadas enferrujadas que utilizavam. Outros ficavam do próprio convés atirando baldes, copos e um louco disparando até mesmo sua própria arma, um pequeno machadinho. Aliás, em meio a todo reboliço era possível para dupla avistar parte dos corpos de Kraezis, sendo que o tronco estava amarrado no segundo mastro, os braços estavam amarrados em balde no canto do convés e, a “bacia” estava servindo como um acessório para o capitão, sim, ele tinha amarrado uma fina corta e parecia usar aquilo como uma “bolsa”.

Caso olhassem ao redor, poderiam ver que não faltava muito para chegar em terra firme, já que uma grande silhueta como a se formar no horizonte.

O odor ferroso do sangue banhava o ambiente em que Deucalion estava, o líquido carmesim pingava das suas garras como uma goteira inacabável, uma prova do quão intenso foi aquele massacre. Enquanto o lobo-demônio caminhava pela extensão do navio ele podia sentir uma espécie de “arrepio” percorrer seu corpo, no entanto, aquilo era duas ou três vezes pior nas demais figuras [exceto os jogadores] que estavam naquela embarcação.

O sangue, tripas e pedaços dos órgãos ficavam no caminho trilhado pelo lobo, duas figuras que haviam descido anteriormente ficaram abismadas com tal cena e nem sequer ousavam erguer suas armas contra a figura canina. Enquanto o mesmo fazia sua jornada até o convés, Passarinho e Ossudinho trilhavam o caminho da guerra de maneira simples e direta, sinceramente, era impossível acreditar que aquele grupo os tinha capturado.

O capitão até que tentou erguer sua voz e comandar seus homens, no entanto, o Avian parecia disposto e imerso o bastante para liquidar com os inimigos de maneira eficaz, utilizando da sua própria arte para melhorar e engrandecer suas capacidades, controlando o próprio vento para afetar os seus inimigos. O ímpeto do capitão foi quebrado no momento em que notou a derrota dos seus homens, não tinha uma disputa de verdade, era uma guerra unilateral.

Aquilo mudou em algum momento? Sim, com a chegada do lobo tudo conseguiu ficar pior. As palavras do mesmo ecoavam pelo lugar, seguidas das palavras de Kraezis, que por sinal, aos poucos estava conseguindo reconectar seu corpo e, por fim, finalmente conseguia obtê-lo por inteiro. Alguns homens que ali restavam largaram suas armas com velocidade, enquanto viam a cena daquela criatura animalesca banhava no sangue dos seus aliados, chegando a embrulhar o estômago de alguns, que não resistiam em colocar o alimento de outrora para fora. E os outros? Bem, estes tinham o ímpeto necessário para continuar, diferente do próprio capitão decrépito estes avançavam em conjunto contra o lobo-homem, cerca de três corajosos e bons homens. Eles venceram? Não, nem tinham a mínima chance contra a criatura banhada nas chamas do próprio inferno, onde mostrou todas suas capacidades em combate para liquidar de maneira sucinta seus inimigos.

- Poupem meus homens! - A voz do capitão se espalhou pela extensão do convés após o derradeiro silêncio que findou o término do combate - Todos aqui estão apenas buscando o melhor para suas famílias. - Prosseguiu com a voz trêmula - Encontramos vocês em outra noite e pensamos que poderíamos ganhar algum dinheiro, não queríamos fazer mal. - Controverso? Sim, mas suas palavras carregavam uma certa sinceridade. O homem bradou tais palavras caminhando em direção ao centro do convés, ajoelhando-se quando chegou à alguns metros de distância - Eu imploro por cle…. - O pobre homem mal conseguiu terminar sua frase, sua visão foi tomada por uma grande mão de cor amarelada que esmagou todo seu crânio, sim, o Orc estava ali mais uma vez.

Diferente de antes o medo não estava claro em sua face, na verdade, era possível notar uma ira em volta de toda sua existência naquele momento. Ele não falou, apenas um grunhido estranho surgiu do interior da sua boca. O que ele fez? Aquilo se tornaria de fato uma das cenas mais estranhas presenciadas pelo grupo. Com ambas as mãos começou a forçar uma abertura na altura do seu abdômen, a grossa camada de pele e músculos era rasgada com dificuldade, porém, mesmo visivelmente sentindo uma dor agoniante a criatura não parava. O sangue não tardava a aparecer, inclusive, passava a sair pelos seus olhos, boca e ouvidos também. O que era aquilo? Talvez nenhuma das três figuras conseguisse reconhecer. Quando os dedos do Orc alcançaram o interior do seu corpo ele puxou com toda sua força, abrindo literalmente um “vão” em seu abdômen que apenas crescia e uma energia vermelha surgia do corpo da criatura.

- Esperava mais de você, Deucalion. - A voz emanava daquela região arranhava os ouvidos do trio sim, até mesmo o seu makei - Dando uma oportunidade a vermes tão fracos como estes? - Aquelas palavras saíam enquanto duas mãos demoníacas seguravam em ambas as “laterais” do portal, abrindo ainda mais o corpo do Orc que ainda continuava em vida, era possível agora ouvir os berros de dor que vinham do mesmo. Daquelas mãos saíram uma energia da mesma cor do portal, que atravessou os homens que ainda estavam com vida, levando-os à morte imediata - Tenho várias expectativas em você, mas desse jeito ficará para trás na corrida pelo trono. - Do que ele estava falando? Talvez apenas Deucalion pudesse de fato entender, já que aquela criatura que tomava forma [uma face começava a aparecer naquela região] se tratava do próprio Azazel - Você precisa correr, Deucalion. - Suas últimas palavras se davam com a “abertura” completa do Orc, levando-o a sua morte e o sangue e tripas se espalharem pelo convés.

Por fim, o navio continuava seu caminho movido unicamente pelos ventos fortes que culminaram no término daquela cena. A terra firme era palpável e não demoraria mais que alguns minutos para que a embarcação se chocasse com o singelo porto ali existente.