[Evento Dinâmico] A corrupção do sangue negro

Passar dias na estrada não era a opção mais viável. A sorte é que até nisso os céus provinham com suas bênçãos. Eu estava sentado dentro do barco que cruzava as águas do continente onde nasci. Carina era uma grande aliada em minhas viagens, sendo uma das constelações mais úteis para tais feitos. Não levava muita coisa comigo. Afinal aquela era uma missão de conhecimento e pesquisa, nada tão formal ou diplomático, embora a diplomacia em terrenos hostis fosse necessária. Já Lúthien, fazia questão de trazer os seus melhores trajes… O barco estava com várias malas de minha mimada filha juntamente com dois de nossos servos encarregados de cuidar de nossas necessidades na viagem.

- Papai, a gente já chegou? - Ela perguntou enquanto se debruçava sobre a madeira banhada de estrelas do barco. - Estou cansada de ver tanta floresta, só tem árvore, árvore, árvore!! Pensei que a gente ia para a capital do elfos… - Ela dizia enquanto seu corpo amolecia e se deitava sobre o chão do barco, rolando de um lado para o outro.

- Lúthien, minha pequena. Eu te avisei que era uma viagem de pesquisa, nada extravagante ou chique para os seus gostos… Mas você insistiu dizendo que queria vir… - Eu dei de ombros enquanto suspirava baixinho, internamente rindo com a maneira cômica da garota se expressar.

- Poxa paizinho… Não podemos pelo menos ir para a cidade depois que tudo terminar? - Com passos apressadinhos ela pulou ao meu lado, agarrando meu braço e chacoalhando o mesmo. Seus olhos grandes e azulados piscavam rapidamente enquanto ela fazia uma carinha de cão sem dono. Suspirei mais forte, desta vez levando a destra sobre a minha têmpora. - Se você se comportar… Vou pensar no seu caso. - Eu disse de maneira enfática. Sinceramente, não queria ter de ir até a capital. Haviam muitas lembranças, receios sobre minha pessoa para com aquele lugar. Embora eu e Lúthien não fossemos parecidos com elfos de sangue, esconder a nossa natureza poderia ser difícil em meio aos outros elfos, ainda mais de Eldacar… Ainda mais…Dele…

Ela começou a pular de maneira radiante dizendo pequenos ‘’Yupis’’ antes de se voltar às suas bagagens. Meus olhos focaram o horizonte… Lembrei-me do chamado daquele homem dizendo sobre o problema do dito ‘’Sangue Negro’’. Eu estava curioso e ainda mais apreensivo. Talvez a apreensão fosse em vê-lo novamente, afinal já se passaram cinquenta anos desde que nos falamos pessoalmente.

Embora Greenleaf fosse a minha terra natal e eu tivesse más lembranças sobre ela… Ainda haviam as boas que eu queria manter e, ainda haviam pessoas lá que precisavam de minha ajuda. Talvez fosse meu senso de responsabilidade que eu sentia com aqueles que eram iguais a mim, ou talvez a minha curiosidade como um mago que gostava de se aventurar em qualquer campo da ciência, mas a verdade é que só de estar longe de Skraev, da corte e da neve… Já me deixava aliviado.

O barco das estrelas subiu aos céus ao chegarmos em nosso destino. O acampamento montado era o perímetro estabelecido para evitar que civis adentrassem a parte da floresta que estava tomada pelo cheiro de enxofre e pelo miasma. - Irei cumprimentar um velho amigo, por favor montem nosso acampamento. - Disse de maneira cortês aos dois elfos que nos acompanhavam. A nobreza tinha as suas regalias e menos dores de cabeça em certas áreas.

Cientistas, magos, alquimistas do mundo todo estavam por ali. Várias raças distintas, mas em maioria, elfos. - Fique perto de mim Lúthien. - Disse a pequena, mantendo-a ao meu lado enquanto eu procurava pelo meu antigo colega de pesquisa. Enquanto meus olhos procuravam pelo homem, Lúthien cantarolava baixinho, olhando todos ao seu redor. Ela estava encantada com tanta gente diferente. Seus olhos brilharam mais ao ver um gnomo… É, ela nunca havia visto um gnomo antes. - Papai, papai, papai! Porque ele é pequeno? - Olhei para ela e logo levei minhas mãos sobre sua boca.

- Lúthien aonde estão seus modos? - Olhei ao redor para ver se alguém tinha ouvido aquilo. Por sorte, estavam todos ocupados demais para notar o que a jovem falava ao vento. - Você se preocupa demais com Lúthien, Eld… - A voz que soou por detrás de meus ombros fez um arrepio subir pelas minhas costas. Pisquei algumas vezes antes de lentamente me virar e me deparar com a figura dele. - Nossa, até parece que viu um fantasma! Hahaha. - Ele começou a rir levando os dedos finos sobre seus lábios mais finos ainda.

A figura que se encontrava à nossa frente era a de Heliondir Aran Yggdrasil, um elfo que a alguns anos havia sido um dos melhores alunos na arte da magia da transmutação de Ionad Emynor e marcou a história da universidade… - Hahaha H-Heliondir…Fantasma? Não não não que isso…- Eu ri de maneira sem graça enquanto sentia Lúthien começar a se debater  em meu abraço. - Huum hum huum HUUUUM! - Ela reclamava enquanto sua boca era tampada. Eu olhava para Heliondir, nossos olhos se cruzavam por um tempo a mais que começava a soar estranho. Ele logo desviou o olhar para Lúthien, depois para mim novamente. - Err… Eld… Solta ela… - Ele disse abrindo um sorriso para mim.

- HUUUUM! - Lúthien gritou e logo eu voltei aos meus sentidos. Soltei a garota que logo correu para trás de Heliondir, se escondendo atrás dele. - PAPAI! O que deu em você! Seu bobo! - Ela disse antes de empurrar o elfo loiro para cima de mim. O loiro deu alguns passos para frente, ficando a menos de um metro de mim. Dei um passo para trás e logo sorri para o homem, estendendo minha mão a ele.

- Fico feliz em lhe rever, Heliondir. - O homem pegou minha mão e me cumprimentou de volta. Ele era mais baixo que eu, seus olhos verdes como as folhas da floresta eram brilhantes, mas não como as estrelas… Estavam mais para pedras preciosas, uma esmeralda cintilante. Eu não sabia explicar o que eu sentia quando eu olhava para aqueles olhos.

- É um prazer te ver bem e saudável! Como tem passado? Sinto falta da neve de Elenathria, a neve daqui não é tão limpa quanto a de Skraev e claro senti sua falta, Eld. Desde que me formei você não veio me visitar. - Ele disse dando uma risadinha. Seus movimentos eram graciosos e delicados como o dos elfos de sua casta, porque todos eles tinham cheiro de flor…? Ou seria só ele que tinha?

- Sabe como as coisas são Heliondir… Nunca tive muito tempo para viajar, estar aqui é uma completa exceção. - Não era mentira, afinal eu era muito atarefado com problemas de estado e da universidade para sair de Aldmeri com frequência. - A propósito.. Me conte como as coisas estão. Esse sangue negro, tem alguma pista do que seja? - Perguntei enquanto observava nosso entorno. - Apenas que surgiu do nada, que tem um cheiro ruim e que está matando as plantas rapidamente… Não encontrei registro de nada parecido na história de nosso povo. - Ele disse enquanto caminhava, o segui, estando ao seu lado.

Nos aproximamos da área afetada, o limite do perímetro criado pelos elfos para evitar que os pesquisadores se contaminassem. Era pior do que eu imaginava. As flores, as árvores, a vida… Tudo havia sido tomado por aquela substância negra. O cheiro era insuportável, fazendo com que meu estômago se embrulhasse e sentisse meu café da manhã com vontade de ver o sol novamente. A floresta linda que ali havia, agora dava lugar a um pântano fétido e sem vida. - Pelos deuses…- Disse de maneira surpresa, com um sútil lamento no fundo de minha garganta.

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