[Auto-Narrada|Fechada] O Alvorecer Dourado

Acordar é com certeza uma das melhores partes do dia. Todo dia acordar e poder ver e sentir novamente os raios de Sol invadindo meu quarto, quase como se me puxasse de volta para a realidade após o inevitável breu da noite. Me sentir diretamente tocada pelo Sol é uma das coisas da qual nunca trocaria nessa vida, e por isso nunca enjoarei de iniciar meu dia desta forma.

Me sentava na cama com os olhos ainda cerrados e esticando os braços para me espreguiçar, coçava um pouco ambos os olhos antes de finalmente abri-los. Após todos esses anos já não deveria mais me impressionar, nunca soube ao certo como agradecer por todos os privilégios, mas vejo esse quarto como se fosse meu primeiro dia entrando nele, sempre com a mesma surpresa e alegria de um espaço tão grande e especial, só para mim.

Levantava da cama em direção ao banheiro e como todo dia, fazia todas as minhas tarefas matinais como de costume. Vestia um roupão após o banho e ia pra varanda me sentar e tomar o café da manhã que provavelmente já teria sido posto na mesa. Bebia suco de laranja enquanto me alimentava com pão e frutas, olhando para boa parte do Ducado. - Fico feliz de vir morar num local como esse… Os nobres ficam ainda mais alto… Mas pra mim já está bom! - Dizia enquanto terminava de me alimentar. Saindo da varanda, ia diretamente para meu espelho, iluminada pela luz do Sol ainda crescendo no horizonte, pegava um pincel para começar a retocar algumas pinturas no corpo. - Será que todos já acordaram? - Pensava alto enquanto pincelava meu corpo com a tinta dourada, terminando enfim com a pintura. - Certo! Hora de me arrumar e descer. - Jogava o roupão na cama e seguia em direção ao meu guarda roupas, pegando minhas vestes de costume. - No final só ter um tipo de roupa é muito bom… -

Estava pronta para iniciar de fato meu dia. Ajeitava uma última vez a roupa, conferia meus acessórios, brincos, braceletes, anéis, e com tudo conferido, caminhava novamente em direção a varanda. - Muito Bom Dia! - Dizia bem alto enquanto saltava da sacada. Claro, não era maluca para me jogar sem mais nem menos. Me apoiava na borda da proteção da sacada, tendo pego o impulso com o salto para conseguir me direcionar até a janela do andar de baixo, onde fica o salão principal da casa. Realizava uma pirueta no ar antes de então cair dentro do cômodo de pé, com as mãos na cintura e com um olhar exibido em direção a bancada da cozinha que ficava logo ao lado, buscando os olhares de meus irmãos. - Bom dia pestinhas! -

A pose de herói era algo que estava treinando já a algum tempo, e não há nada melhor do que usá-la para provocá-los. Olhava em direção a bancada da cozinha procurando pelos olhares de meus irmãozinhos, que se encontravam tomando o café da manhã. Eles paravam de comer o cereal e olhava direto para mim com um grande sorriso no rosto. - A irmã acordou! - Diziam em uníssono. Sky e Grey eram meus irmãos mais novos, apesar da familiaridade, não nasceram com algo em especial. Felizmente isso nunca os afetou negativamente, já que pra eles já bastava terem "a irmã mais importante do mundo".

Os dois desciam de suas cadeiras e vinham correndo em minha direção, a mãe tentava os segurar mas era tarde para pegá-los, ambos pulavam para cima de mim e apesar de conseguir segurar o primeiro, caímos os 3 quando o outro pulou. - Estão bem animados, como sempre! - Dizia meio atrapalhada por ter ambos em cima de mim, mas não deixava por isso, começava uma série de ataques de cócegas em ambos, mirando a barriga dos dois e saindo debaixo deles com o tempo. - HAHAHA! Isso é pra aprenderem quem manda! - Falava buscando uma voz mais maléfica, falhava, mas continuava rindo do mesmo jeito. Ambos ficavam no chão, gargalhando com as cócegas e tentando evitá-las, apesar de não surtir muito efeito. - N-não v-va-valhe! - Dizia Sky tentando evitar os risos. - Q-quando s-sairmos v-vo-você vai ver! - Completava Grey. Continuava minha risada maléfica enquanto prendia os dois pestinhas, quando por um segundo olhava em direção a cozinha… para de fazer cócegas neles e por um momento até pensavam que iriam ter sua revanche, mas também perceberam a situação… Ela estava lá parada, com uma arma em mãos e nos matando com seu olhar sanguinário… Todos os 3 se ajeitavam e em um piscar de olhos estavam ajoelhados completamente rendidos e se curvando em direção a cozinha. - Desculpa Mãe! - Diziam eles.

Os três pareciam ter visto a maldade em pessoa, talvez fosse uma memória coletiva que os afetou ao mesmo tempo ou apenas um medo de algo pior passava por suas cabeças, mas se rendiam perante aquela senhora com avental de cozinha e segurando uma simples frigideira. - Você é sempre assim… Deixe que eles pelo menos acabem o café! - Dizia ela à sua filha, não demonstrava estar chateada, talvez um pouco irritada, mas era assim sempre, por isso se acostumou com a situação. - Andem, terminem o café que precisam ir à aula! - Ela falava apontando diretamente para a bancada, e os dois saíam com o rabo entre as pernas para terminar o café. - Saia do chão! O que acha que vão pensar se descobrirem que dei bronca em um dos Escolhidos? - Dizia enquanto estendia a mão para me ajudar a levantar. - Eu acho que ninguém reclamaria de uma mãe chamar atenção da sua filha… - Falava enquanto me levantava, batendo um pouco na roupa e logo a abraçando. - Bom dia! -

Seu abraço era aconchegante e quente, talvez fosse algo especial das mães mas sempre podia me sentir segura perto dela. - O Pai já saiu? Queria ter visto ele também… - Perguntava ainda segurando ela, soltando rapidamente ao perceber que estava ficando longo demais. - Ele disse que precisava resolver alguns assuntos no trabalho e não queria incomodar o sono da "princesa"... - Ironizava ela já que eu sempre dormia até mais tarde. - Certo, então eu levarei seu almoço! Queria dar uma volta pelas cachoeiras, talvez me banhar um pouco, na volta eu levo o almoço dele… Eu posso né? - Independente de quem fosse, eu nunca ousaria tentar passar a autoridade de minha mãe, tentava fazer um charme durante a pergunta mesmo que soubesse que não funcionaria. - Esperava que soubesse que não mando mais em você, afinal, já chegou em sua maioridade… - Dizia ela com um sorriso. - Pode fazer o que quiser agora querida, só tenta não se meter em problemas, sabe o que está em jogo. - E assim ela se virava na direção da cozinha, dando bronca nos dois pequeninos por prestarem atenção na nossa conversa ao invés de comerem.

Via os olhos dos dois, brilhavam como um diamante, e juntos apelavam novamente com o seu maior poder: A fofura. - Mãe… Pur favor… Deixa a gente ir com a irmã… - Era até bonitinho ver os dois assim, eles se dedicam ao máximo quando precisam pedir algo. - Podem ir. - Ambos estavam prontos para chorar mais e retrucar qualquer fato que ela impusesse, mas ela apenas "aceitou". Parecia um sonho impossível. Eu mesmo me surpreendi e deixava cair algumas maçãs enquanto pegava uma para me alimentar. Seus momentos de glória e alegria reinaram pelos poucos segundos antes que ela viesse a falar novamente. - Mas aí estarão afirmando que sabem toda a matéria dada na escola de letra e portanto não precisam ir às aulas "chatas". Sendo assim, me passando todas as questões corretamente resolvidas e claro, não menos importante, não tirando menos do que a nota máxima. - Era cruel, mães não deviam ser assim… Foi como falar pro surdo que ele iria ouvir novamente… A alegria de ambos foi embora junto de qualquer vontade de resistir, voltavam à mesa cabisbaixos, sem mais forças para continuar.

Observar aquela cena foi definitivamente deprimente. Dava uma mordida na maçã para quebrar o clima, olhando para os dois e depois pra minha mãe. - Quer ir com eles também "Querida"? Lembro de ter ido mal nessa época… - Ela perguntava, parecia uma sentença de morte, um claro queijo deixado ali somente para que acabasse comigo. Adiantava meus passos para a saída da cozinha, dando um tchauzinho para todos. - É… Não, obrigado. Beijo! Amo vocês! Volto pro almoço. - Dizia enquanto vazava do cômodo em direção a porta principal da casa. Minha mãe continuou cortando os legumes, com um leve sorriso estampado em sua cara. - Enfim o silêncio... -

Sair de casa era sempre bom, além das novas experiências que pode viver, o ar é diferente. As pessoas que você encontra, os cenários que aprecia, o mundo é tão vasto e belo, mas poucos o apreciam de fato. Pra mim é sempre muito bom poder estar do lado de fora e vivenciar mais disso, mas principalmente, por poder ficar em contato com o Sol. - "Hoje será um bom dia…" -

Caminhava saltitante pelas ruas, já era um costume de todos me ver alegre e pra mim é um prazer passar nem que um pouco da minha alegria pra quem precisa. Cumprimentava todos que visse ou viesse falar comigo, sempre com um largo sorriso no rosto e mantendo a simpatia. Apesar de estar em um local mais importante, não era da família Real, e portanto, não ficava junto dos nobres, o que sempre me pareceu um alívio. As regras impostas a eles nunca me pareceram muito divertidas, era bom estar rodeada de pessoas mais livres e mais bem humoradas do que os nobres.

Após todo o trajeto, chegava finalmente no meu destino. O lugar onde vivíamos era repleto de cenários deslumbrantes, viver nas alturas nos dava esse pequeno presente. Contudo, não é como se não pudéssemos aproveitar da paisagem, apesar de a maioria das cachoeiras serem perigosas, existiam algumas mais isoladas e menores que acabavam ficando vazias por estarem em regiões mais baixas e chatas de acessar. Felizmente minha curiosidade não me prendia na hora de procurar por esses lugares, e acabei descobrindo bons locais para me banhar sem incômodos.

Um local tão bonito quanto esse totalmente para você é o sonho de qualquer pessoa. Por ficar mais próximo das bordas e mais pra baixo do que o povo realmente vai, nunca vi ninguém vindo aqui, sendo assim eu praticamente declarei como meu. - Nada como um banho na natureza, e esse Sol maravilhoso… Obrigado por existirem. - Dizia começando a tirar as vestes e ficando apenas com as roupas íntimas, as pondo em alguma pedra mais alta que visse para que pudesse entrar finalmente na água.

Apesar da minha regularidade em vir até a cachoeira, sempre passo por uma nova experiência ao entrar na água. Independente do que tenha mudado, algo sempre muda. É revigorante ter esse tempo a sós consigo mesmo em uma manhã, - "Quem sabe eu possa trazê-los aqui mais pra frente…" - Lembrava de minha família e de como nossos momentos juntos eram importantes… Permanecia deitada em algum ponto mais elevado enquanto a água passava suavemente pelo meu corpo, completamente exposta ao Sol. - É bom ter você ao meu lado sempre. -

Passado algum tempo pegando um bronze, entraria por uma última vez na água antes que por fim fizesse meu caminho de volta, esperando alguns minutos para que a água pudesse secar na medida do possível. - Eu devia ter trago mais maçãs… O que será que teremos hoje pro almoço? Vou me adiantar! - Não podia ignorar minhas necessidades, minha barriga clamava por alguma comida e por tanto me apressava em colocar minha roupa, contudo, algo inesperado acontecia. Uma pequena tela digitalizada(?) aparecia em minha frente, não podia dizer se era uma magia exatamente, mas não parecia poder me fazer algum mal. Seu pedido era simples, realizar flexões e abdominais.

"Receber" algo assim de forma tão inesperada era no mínimo estranho. Não sabia ou mesmo conseguia identificar a origem da mensagem, minhas expectativas apontavam para ser alguma comunicação divina de minha Deusa, mas não parecia com o tipo de mensagem que ela mandaria…

Minha conclusão após algum tempo era de que não poderia fazer nada. Buscar uma lógica para tal acontecimento era impossível, portanto decidi apenas resolvê-lo. Estava animada pois só precisaria fazer um certo número de exercícios e então seguir de volta para meu rango. Bom, era como eu pensava antes de tentar fazer as flexões com dois dedos e falhar miseravelmente após a terceira… Tentar levar na brincadeira me fez perder um bom tempo nisso, descansa um pouco antes de voltar a concluir as flexões, mas não aguentava mais de duas dezenas direto. - Achei que estivesse mais em forma… -

Começava a ver formas de contornar a situação, mas não tinha nada melhor do que realizar as flexões inclinadas. Arrumava uma pedra alta para me apoiar e então realizar as flexões com um pouco menos de esforço. Era uma mudança boa mas nada que me fizesse acelerar completamente o processo, porém o suficiente para me fazer concluí-lo sem muito mais problemas… - Uff! Talvez eu devesse começar alguma rotina de treinos matinais, pra me ajudar a manter a forma. Não achei que iria cansar tanto… - Dizia enquanto saía da água, agora finalmente em direção às minhas roupas. - Agora sim estou completamente morta de fome, vamos ver o que temos pro almoço! -