[Autonarrada/Fechada +18 ] - Children of the Éden

A caminhada para a superfície havia sido longa. Eu não me recordava o quanto tempo demorava para enfim poder vermos as nuvens. No meio do caminho, meus poderes quebravam as paredes, despencando as rochas. Os túneis, as escadarias… Tudo o que não estava completamente destruído pela invasão, eu fazia questão de quebrar. Não havia mais o paraíso, não tínhamos mais casa… Então não havia o porquê de deixar algo em pé.

A última pedra caia sobre a porta de entrada da caverna. Nosso trabalho estava feito. Minha respiração estava ofegante, havíamos passado várias horas executando aquela tarefa, para no final, enterrarmos todo o nosso passado… Nossa história. Senti as lágrimas se formando sobre meus olhos e em seguida, escorrendo sobre minhas bochechas. Não havia o que esconder, mas havia o que lamentar.

Meu joelhos dobrados me levaram até próxima ao chão, desabando meu peso sobre a grama. Levei as mãos sobre o rosto, escondendo minha face sobre elas. O choro baixo e os soluços abafados podiam ser ouvidos. Meu coração doía, minhas pernas doíam e minha cabeça rodava em uma mistura de tontura e desespero. O vento gelado batia sobre meu corpo nu. Nossos corpos haviam sobrevivido, mas nada material havia durado pelo tempo. - Cain… Abel…- Eu chamava o nome das crianças que foram tiradas de mim. A última lembrança que eu tinha delas, era a de Drácula mordendo seus pequenos corpos na minha frente. - Meus filhos… Adam… Ele matou nossas crianças. - O choro inconsolável logo ficava mais alto enquanto eu agarrava minha pele.

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Dos primeiros passos, sentiu uma tontura nostálgica àquela quando Eve o salvara da morte, há muito tempo atrás. A diferença era que dessa vez o ar frio que esvoaçava seus cabelos negros esverdeados lhe trazia um pequeno choque de realidade, um pé no chão. Seu coração estava despedaçado pelo horror que testemunhara, mas deveria cicatrizar mais rapidamente até mais que as cicatrizes quais percorriam seu corpo como um todo. A grande cicatriz em seu peito causada por Drácula não chamava mais lhe a atenção. Ele havia destruído tudo, sua casa, seus amigos, seus filhos e rasgado a alma de Eve ao meio, ao ponto que se Adam não tomasse a dianteira aquela hora, não poderia mais se apoiar na sempre calma e alegre postura da esposa.

Caminhava com o torso nu, pálido e cheio de cicatrizes iluminado pela luz da noite eterna e fria como ele mesmo fisiologicamente. Seus olhos fixos na figura de Eve, em silêncio, amargurada. Sua espada, lacrada, embainhada, estava em sua mão naquela cena.

Com o desabar de Eve, de joelhos, aos prantos, sentiu um soco no estomago, um amargo na boca, cerrava os dentes. Aquela cena era mais dolorosa que mais um corte de algum troglodita sedento por briga, era muito mais. As memórias da agressão fatal de Drácula à suas duas crianças também continuavam fresca, como se fosse ontem, após um longo sono. Parecia como acordar dum pesadelo e descobrir que ele era real. Sentia aos poucos aquilo corroer por dentro muito mais forte que a queda da expedição ou o próprio acontecimento em si. Era impotência, remorso. Não podia deixar a fúria lhe subir a cabeça.

Deixou a espada tão valiosa cair sob o chão, se jogando de joelhos, lentamente sob a grama, a frente da esposa, a envolvendo num abraço, a acolhendo gentilmente contra seu corpo maior. Acariciou seus cabelos lentamente, primeiramente em silêncio. Havia perdido as palavras, só compartilha sua dor.

Afastou um pouco o rosto, deixando um beijo sobre sua testa, a aproximando novamente.

– Respire fundo, um pouco. Relaxe os músculos... por favor, por um instante que seja, minha rainha. – Disse primeiramente. – Eles são nossos filhos, eles foram agraciados com seu espirito, charme, com sua genialidade... e também um pouco da minha, er... “habilidade”. Prefiro pensar que sobreviveram igual nós.

Eve poderia ver no rosto de Adam alguém tentando não lacrimejar, como de costume. Tentando ser durão para bancar o pilar naquele momento, talvez em retribuição à todas as vezes que ela segurou a barra por ele.

– Eu não vou deixar de me mover e se possível de retalhar como papel todos aqueles falsos aristocratas da Primeira Casta que lambem as botas do tirano até tirar a verdade sobre isso do buraco que... que... – Sentia o sangue ferver falando aquilo rapidamente, metaforicamente, quando olhou para ela novamente, percebeu que estava perdendo a postura, ficando numa mistura de timidez, falta de jeito.

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As palavras sinceras de Adam, seu abraço caloroso e apertado sobre meu corpo me fizeram desabar mais ainda. Junto a ele meus sentimentos podiam fluir como as águas que cortavam o mundo. Não havia desavenças entre nós, não havia amarguras, apenas o pesar e a tristeza compartilhada. Ele havia lutado bravamente para nos proteger e conseguiu ao menos me proteger por um tempo. O contrário não havia sido possível, eu falhei como mãe, como esposa, como soberana. Eu olhei para ele, o rosto inchado e coberto de lágrimas enquanto tentava respirar fundo como ele dissera. Era mais dificil do que parecia.

Seus olhos marejados também com a dor brilhavam de encontro aos meus. Ele também estava sofrendo de sua maneira. Talvez não houvesse dor maior no mundo do que a perda de um filho…- E-Eu não, não consigo… - Eu tentava respirar, mas o ar faltava de meus pulmões. Me aninhei em seu corpo, ainda deixando as lágrimas caírem sobre sua pele pálida. As palavras dele aos poucos iam me confortando e meu choro se acalmava conforme meu corpo amolecia, estava ficando exausta.

No meio do caminho a superfície, não encontrei seus pequenos corpos… Minha última lembrança, era de ter visto Drácula morder meu pequeno Cain. - Adam… Você… Acha que eles podem ter sobrevivido?  - A pergunta sincera, meus olhos avermelhados o encarava com uma expressão sensível. A quem eu queria enganar se não a mim mesma? Preferia a ilusão e a esperança, a dor e o sofrimento.

Esperança… Aquilo que sempre moveu meu ser a melhorar, a progredir e a tornar a vida de todos melhor. Talvez ainda houvesse uma centelha desse sentimento, eu queria acreditar que Drácula não os havia matado. - Eles eram tão pequenos… Não tem como terem sobrevivido a uma mordida daquelas… - Os pensamentos voltavam, eu queria acreditar que eles estavam vivos, mas eu não conseguia me desapegar do fato de ver meu pequeno filho coberto de seu sangue. Eu tentava me lembrar, forçava a mente a lembrar… E isso só não funcionava.

Pude sentir a raiva de Adam e a sua frustração… Ele era uma homem tão bom, tão doce… Vê-lo zangado era tão raro e triste mais ainda. Levei a destra até sua face, acariciando sua bochecha direita. - Ao menos ainda tenho você… - Disse com um sorriso triste. - Eu pensei… Que tinha te perdido também… Eu vi ele te matar… Eu vi seu corpo cair no chão depois dele sugar-lhe o sangue… - Adam havia sido o primeiro a cair após lutar bravamente contra nosso inimigo, mas Drácula estava poderoso demais, até para nós juntos. - Eu não consegui te ajudar… Me perdoe. - As palavras saíam de minha boca como um lamento sutil.

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Seu corpo, delicado, macio, mas por muitas vezes ele lembrava como tão forte, demonstrava a fragilidade do momento, mole, seus belos olhos de cor levado ao purpura expressavam gentileza em meio aquela dor. Aquela dor que compartilhavam, que nas próprias falhas de Adam, ela tentava apaziguá-lo da forma que podia. Como manter a esperança num momento daqueles? Se agarrar que as duas crianças pequenas haveriam sobrevivido ao ataque daquele conhecido como o mais poderoso entre os vampiros?

Continuava à acaricia-la, mesmo aos seus braços, tentando dar de algum conforto diante daquela situação qual ele mesmo não suportava a dor. Tudo destruído praticamente num estalar de dedos de um ser só.

– Nunca saberemos até encontrarmos as respostas, meu amor, minha rainha. – Sorriu, de forma fraca, até um pouco forçada na situação. –  É difícil manter a esperança, mas uma coisa que você me ensinou é que em meio a tragédia podemos nos reerguer, juntos e seguir em frente. Sim, eu estarei aqui, qualquer que seja sua decisão. – Adam queria poder se agarrar em buscar por pistas junto dela, era algo que poderia salvar ambos de uma insanidade de seguir um plano suicida de vingança. Principalmente no caso dele, que sentia que o único fio que o prendia de ser inconsequente era a existência dela.

– Eu também pensei que era o fim... mas novamente, você me salvou. E o seu esforço, seu auxilio, não foi em vão, você conseguiu algo e não foi pouca coisa. – Limpou as lagrimas dela com as próprias mãos, num movimento gentil. – Estamos aqui, tendo mais uma chance de caminharmos juntos! – Encostou sua testa na dela. – Mesmo que seja para ficarmos parados aqui, eu não vou me mover, se for para procurar por pistas, eu estarei com você, se for para acabarmos com Drácula e sua corte, eu vou cortar um por um, por você. E se for para fugirmos para longe desse lugar amaldiçoado, eu vou fugir com você.

Tinha que ser forte por Eve, para que ela recuperasse parte de sua força. Se ambos tivessem forças, eram poderosos.  Tentava substituir a tragédia pelos primeiros momentos deles juntos, quando ele mesmo havia de uma forma peculiar, aceitado sua nova condição. Sua volta, se é que pode se chamar volta, ao mundo dos vivos. Se é que pode se chamar de vivo. O sol os queimava, a lua era de alguma forma convidativa, mas sua luz no fim, era Eve.

– Vamos nos lembrar dos nossos primeiros momentos, antes de tudo, de como você arquitetou tudo basicamente do nada. No meio de toda confusão nas nossas cabeças como primeiros de um novo tipo de humano, da violência da superfície qual conseguimos nos esquivar por muito tempo... você é uma força imparável, Eve. – Encarou-a nos olhos. – Nós estamos juntos, e assim que descobrirmos tudo sobre o que deve ter acontecido nesses últimos dias, meses ou talvez, alguns anos... nós vamos ter de volta o que é nosso, trazer as crianças de volta, ou sei lá, só fugir com os dois para algum lugar bem longe daqui, imagina, viajar o mundo com o céu estrelado como testemunha, ter aqueles nossos er... bons momentos. – Pausou, recuperando o ar. Havia falado muito, preocupava-se mais com o humor de Eve, muito mais com o que o dele mesmo.  

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Sim… Deveria haver uma maneira de concertar tudo, de resolver tudo aquilo…Mas eu não sabia qual era e no momento, não tinha cabeça sequer para pensar de maneira sensata. O luto e o choque pós a tragédia me consumia aos poucos, porém sua energia e fôlego estava junto ao meu. Seus dedos calejados pelos anos de treino com a espada eram um contraste com a minha pele macia. Delicadamente, virei os lábios para a palma de sua mão, dando um pequeno beijo sobre ela.

As palavras dele me enchiam com um pouco mais de esperança. Ao final de tudo, estávamos vivos e tinhamos um ao outro, juntos éramos mais fortes. - Suas palavras sempre me animam… Adam. Mas não posso decidir ainda… Eu só quero refletir sobre tudo isso e… Me lamentar por tudo… - Meus amigos mais antigos, os anões também haviam sumido. Me perguntava se eles haviam sido todos mortos no ataque de Drácula e o pensamento me incomodava demais. Embora eles fossem mortais, eles viviam séculos, milênios a finco e eram boas companhias…

Meu corpo amolecia enquanto eu me aninhava em seu abraço apertado. Ele era maior, mais forte e me deixava segura o suficiente para eu relaxar um pouco mais. A luz da lua iluminava tudo ao nosso redor. A clareira a frente e a floresta para trás onde as pedras agora estavam. Eu sorri para ele, ainda acariciando seu rosto e os fios de cabelo de sua franja. - Você sempre foi tão gentil… Amoroso comigo e com nossos filhos… Eles tem sorte de você ser o pai deles. - Eu lentamente fechava meus olhos. O choro cessava aos poucos, deixando apenas os rastros das lágrimas. Meu coração estava despedaçado, mas Adam tentava juntar seus caquinhos com o amor que ele tinha por mim, amor esse que me dava segurança.

Eu definitivamente havia escolhido bem… Agora restava apenas nós dois, e seu apoio era mais do que necessário, era essencial para a minha sobrevivência. - Uma casa pequena em uma fazenda… Abel e eu fazemos uma torta de maçã enquanto você e Cain alimentam os animais… - Eu dei um leve sorriso e um suspiro singelo. - A noite, nos juntamos para o jantar e logo em seguida lemos uma histórinha para eles dormirem… Eles dormem como anjinhos, segurando seus bichinhos de pelúcia. - Eu imaginava a cena em minha mente, sorrindo para Adam enquanto desejava vivenciar aquilo. - E enquanto eles caem no sono profundo, nós dois voamos juntos como antigamente… E nos amamos sobre a luz da lua e das estrelas sobre um jardim de rosas vermelhas…-

Levei a destra até meu pescoço. - Você me morde de novo e de novo e assim ficamos até a hora de voltar para casa junto a nossos filhos… - Minha voz se suaviza e cada vez mais meu corpo amolecia, mas não de maneira ruim. Estava mais relaxada, o choro havia trago consigo todo o cansaço, que somado com o uso de meus poderes, agora me deixava sonolenta.

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A expressão suavizada se esboçava na face do homem à medida que via, entre carícias e palavras doces trocadas, sua amada Eve estava retomando aos poucos seu animo e uma postura mais sonhadora e esperançosa. O sorriso de canto, mostrava um misto de alivio e alegria e a confortante sensação ao toque dela.

– Sim, sim... – Assentia várias vezes com os sonhos expressados por ela em palavras. Podia ficar ali por dias que não ligaria. – Eve, se alguém tem que ser grato por tudo, sou eu. Antes de você... eu podia ser mais um carregado aos ventos, mas me faltava algo. Algum proposito, não só planar no vento.

– Apesar de eu não ser lá o melhor administrador, acho que o garoto pode mais ser parecido com você! – Soltou um leve riso, despreocupado, alegre. – Isso me lembra uma outra vida, onde eu ajudava a cuidar de estufas e não aprendi nada no fim... – Disse baixinho, fixo nela, naquela posição confortável que estavam.   – Contar histórias é algo bom, sempre me animei com sua voz, seus trejeitos quando tentava entreter os pequeninos que dividiam a comunidade contigo no início.

Mencionar as escapadas dos dois ao luar, desde o inicio quando estava descobrindo seus poderes, eram umas das coisas mais intensas e boas que viveu com Eve anteriormente. Parte de uma longa lista de coisas que fazia única, especial. Também notava, que mesmo na fraqueza, a sensação nostálgica de ver seu corpo nu banhada bela lua, causava lhe uma ótima sensação a qual antes, coraria, esconderia a face, desconversaria enquanto seu coração ficava louco. Já junto dela, seu pudor para expressar seus verdadeiros sentimentos, duma forma emocional chegava ao mínimo.

– E você sabe que nossos passeios ficam marcados não só por memórias, mas com a pequena destruição que causamos fora do quarto! – Disse, meio sem jeito. Adorava lembrar daquilo apesar de ter suas próprias travas incontornáveis ao comentar. – Bom te ver se iluminando, minha rainha, é um início... e teremos um bom tempo para isso, para nos tornarmos fortes novamente.

Se inclinou, beijando-a, parecia na cabeça dele que haviam passado poucos dias de sono, mas algo o confundia como se fossem muitos anos, o que deixou mais intenso, terminando com uma leve mordida em seu lábio, antes que se levantasse com ela em seus braços, segura, aninhada.

– Como se você também não fosse do tipo que tem um vício em mordidas, senhora. – Sorriu de canto, encarando-a. – O que meu pescoço não viu com lâminas, ele tem de marcas de certos pares de dentes! – Era um fato curioso mencionar o vício de Eve, quando parava para pensar.

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A vida em um sonho era perfeita, agradável, sem dores ou mágoas. Embora bom e desejável, não podia viver apenas nele. A realidade era aquilo que era palpável as mãos e sensível ao toque. Meus olhos ainda fechados, e meus lábios expressando um suave sorriso ao ouvir as palavras dele. Seu apoio me dava forças, suas palavras, coragem.

Talvez se eu não tivesse Adam ao meu lado, minha vida fosse mais sombria e com certeza eu nem mais estaria viva após o ataque de Drácula ou sabe-se lá os deuses o que eu não teria me tornado… Drácula, no final me queria como sua concubina, um objeto para seu uso pessoal, para subjugar e domar… Eu não podia ser domada, nem tomada, e Adam entendia isso… Ele me via como sua igual, e isso para mim era muito importante em nosso amor um pelo outro.

- Claro que aprendeu meu amor… Você sempre cuidou de mim, a rosa mais linda de seu jardim. - Não poderia deixar ele se diminuir assim. As pessoas tinham talentos diferentes, ele não era o melhor administrador do reino, de fato, mas me apoiava para que meu trabalho como rainha fosse mais fácil. Embora eu o tivesse coroado como o Rei do submundo, suas funções administrativas no Éden nunca foram claras, sua posição era mais próxima a de um consorte e de um guarda-real.

- Das noites de teatro, música e dança… Nosso reino era tão agraciado com as artes, éramos pacíficos, amantes da beleza… Os anões amavam dançar comigo, eles me faziam tão lindos vestidos e jóias… Você inclusive rasgou vários deles… - Dei uma suave risadinha nasalada. - Kufufufu… Eu me lembro bem de todas as vezes… A gente se divertiu muito. - De fato haviam sido anos a finco de amor e carinho, e mesmo depois de tanto tempo, Adam continuava o mesmo.

Seu beijo sobre meus lábios me fez corar suavemente. Retribui o gesto delicado com carinho, beijando-o também de forma apaixonada. Eu me apoiaria nisso… Mesmo em meio ao desespero, seu amor ainda era meu refúgio seguro e uma fortaleza sólida. A mordida sobre meus lábios fez um suspiro sair dos meus.

Minha destra suavemente deslizou sobre seu peitoral, acariciando seu corpo também despido. As marcas das cicatrizes estavam presentes, entre elas a maior de todas, a que Drácula havia feito em seu peito antes de quase tê-lo matado. Senti seus braços fortes me erguer do chão, agarrei seu pescoço enquanto era carregada como uma princesa. - A culpa é sua, quem mandou ter um sangue tão bom. - Disse dando uma risadinha suave antes de encostar a cabeça no ombro dele. Eu já estava mais relaxada, mais calma, sentindo a esperança voltar ao seu estado normal em minha alma.

Tudo parecia bem, até sons estranhos começarem a se aproximar de nós. O barulho lembrava o som de rodas. Olhei para frente, usando de minha visão avantajada e logo pude ver que estávamos perto de uma estrada e ao longe, uma carruagem puxada por uma criatura semelhante a um cavalo mas… Apenas feito por ossos me deixou chocada. - O-O que é aquilo? - Perguntei, receosa mas ao mesmo tempo, curiosa.

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Sua rainha era mais bela e preciosa flor em meio a todo aquele jardim, concordava com a cabeça, se levando pelo momento, pelo sentimento, com um sorriso bobo de canto. Aliás, levando pelas memórias dos momentos juntos, escapadas, móveis, vasos quebrados, vestidos rasgados, estavam nus, no meio do nada, sendo iluminados pelo luar. Ela estava em seu colo com toda sua beleza natural a mostra, tal qual os velhos tempos.

O instinto era deixa-la afundar seus afiados dentes em seu pescoço enquanto se entregavam aos instintos duma escapada no meio do nada. Afinal, o sangue dele podia ser muito bom, mas em compensação ela era muito... tinha que se concentrar, estavam no meio do nada, sem nenhuma informação ou noção de tempo.

– Depois de toda essa conversa, esse lugar e você assim com seu jeito doce, exposta ao luar, essa beleza toda exposta e iluminada... é complicado, não que eu ache ruim, mas... – Disse baixinho para ela. – E-Eu preciso me focar para te manter segura, você precisa dum descanso, já que nos manteve intactos e seguros anteriormente. – Forçava ficar sério como era com os demais, o que poderia soar engraçado para Eve que via mais o outro lado de Adam.

Mas logo a confusão dele acabaria para uma certa surpresa. Seus sentidos logo captaram algo mais distante, se aproximando, apertou os olhos de coloração rubra, escapando do olhar de sua esposa, aproximava-se uma carruagem peculiar das que vira enquanto era humano. Se não fosse ele, sendo ele, acharia ela demasiado amedrontadora, ainda mais com o tipo de cavalos que a puxavam.

– Eu não faço a mínima ideia. Só que há uma carruagem sendo puxada por mortos vivos desse tipo, tsc. – Carregou Eve na direção de sua espada embainhada, já sério. – Me ajude com isso. – Era como se pedisse para ela segurar enquanto a carregava. – Confio no teu julgamento, minha rainha, posso lhe tirar daqui rapidamente, ou prefere que eu aborde essas coisas?

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Eu dei uma nova risadinha. Sabia que era difícil para ele se concentrar enquanto observava meu corpo exposto. Eu não o criticava por isso, até porque o peitoral largo dele, marcado pelas cicatrizes me eram muito atraentes. Os meus dedos finos acariciavam sua nuca gentilmente. Meu corpo ainda cansado podia relaxar sobre seu abraço confortável. Mas tudo isso era apenas temporário.

A carruagem se aproximava e com ela o receio. Segurei no pescoço dele, enquanto o via pegando na espada. - Adam, querido. Acho melhor tentarmos uma abordagem menos… Incisiva, não sabemos com quem estamos lidando… - Sugeri ao homem enquanto levava meus pés ao chão, saindo de seu colo e logo me transformando em um pequeno morceguinho.

- Precisamos levantar informações primeiro, descobrir o que aconteceu… Olhe em volta, não há sinal de combate e minhas roupas se foram com o tempo… Provavelmente dormimos mais do que imaginamos. - Eu disse enquanto pousava sobre seu ombro.- Não podemos revelar quem somos… Não sabemos se os capangas de Drácula ainda estão por aí, melhor nos mantermos discretos… Deixe que eu falo com eles. - Eu conhecia Adam o suficiente para saber que lidar com aquele tipo de situação não era de seu feitio. Ele era um habilidoso guerreiro, mas um diplomata muito ranzinza, o que não ajudava nas negociações na maioria das vezes.

Esperaria Adam nos levar para próximos a estrada, esperando a carruagem. A mesma se aproximou e logo parou ao nosso lado. O cocheiro parecia espantado. - O que fazem aqui no meio do nada? - Ele perguntou. A oportunidade perfeita era dada. - Oh senhor, fomos assaltados por bandidos enquanto estávamos em viagem… Eu e meu guarda-costas sobrevivemos por pouco…Mas levaram tudo da gente. Nosso dinheiro, nossos documentos e até mesmo as nossas roupas… Me obrigando a ficar nessa forma para ao menos preservar a dignidade de meu lindo corpo… -

Minha voz suave e gentil eram artimanhas das quais minhas habilidades como atriz de séculos atrás me proporcionaram. -- Poderia nos ajudar? - Perguntei ao homem, que não sabia muito o que fazer naquela situação. Ele era um vampiro também, mas parecia ser de um sangue menos puro que o meu e de Adam, pois estava visivelmente incomodado em nos encarar nos olhos.

- O que está havendo ai Lucius? - Uma voz soou de dentro da carruagem. Feminina e aguda. - Ah senhora… Dois vampiros na estrada pedindo ajuda. - Uma mão delicada se estendia para fora do veículo. Dei uma batidinha de leve no pescoço de Adam para lhe chamar a atenção e ir até ela.

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