[Evento/Missão Dinamica] Dance Macabre

Minha jornada até Tekkionia sempre foi marcada por desafios, mas a cidade da Margem trouxe consigo um cenário singularmente grotesco. Conhecida por suas lendas antigas e histórias de criaturas nefastas, a cidade agora se via submersa em um problema sombrio e quase cômico: Rasputin Strogonoff, um necromante cuja reputação o precedia, havia transformado a cidade em um teatro macabro. Pelas ruas, mortos dançavam, seus movimentos puxados pela melodia hipnótica que emanava do violino de Strogonoff, enquanto os habitantes, horrorizados, assistiam impotentes ao espetáculo perverso. Seus entes queridos, corpos inertes outrora, moviam-se agora como marionetes em uma dança infernal.

Ao pisar o solo sagrado da cidade, senti a familiar transformação tomar conta de mim. Minhas asas, brilhantes e resplandecentes, manifestaram-se como um lembrete de quem sou e do que represento. A luz que irradiava delas contrastava violentamente com o ambiente macabro. "Essa visão é uma afronta que Helia jamais toleraria" pensei, enquanto observava os corpos dos mortos-vivos girando e se contorcendo ao som da melodia maldita.

As ruas desertas, exceto pelos esqueletos e cadáveres reanimados, pareciam vibrar com cada nota que ecoava pelo ar. A música distorcida entrava nos ouvidos como uma praga, tocando as camadas mais profundas da alma e provocando um desconforto visceral. O ar era pesado, carregado com uma energia sombria que apertava o coração de quem a sentisse.

Pude identificar de onde essa presença nefasta se originava. Um fluxo de poder sombrio emanava da direção da praça central — sem dúvida, o local onde Rasputin aguardava. Ele sabia que eu estava vindo. Havia algo de deliberadamente teatral em toda essa encenação, como se o necromante tivesse preparado o palco para o nosso confronto final.

Eu precisava detê-lo. Mas algo me dizia que ele também estava esperando por mim, com um plano já em curso, um jogo de marionetes onde eu também era uma peça.

Avancei pelas ruas sombrias, cada passo ecoando entre os becos desolados. Solcalibour, minha fiel espada, pulsava em minhas mãos, reagindo à presença profana que enchia o ar. A lâmina, forjada com a luz divina, parecia vibrar de forma quase viva, como se soubesse do confronto iminente e ansiava pela chance de purificar o mal que corrompia aquela cidade. Cada esquina que dobrava trazia uma nova visão perturbadora: mais corpos reanimados, presos em uma dança macabra, movidos por uma força maligna que eu ainda não conseguia compreender completamente.

Os cadáveres dançavam ao som de uma melodia funesta que enchia o ar com sua cadência distorcida. Seus corpos, presos entre a vida e a morte, contorciam-se de maneiras antinaturais, como se estivessem sendo puxados por fios invisíveis. A visão era grotesca, mas o que se destacava era a energia sombria que emanava do centro da cidade — um miasma de poder que me atraía, mesmo enquanto o horror ao meu redor tentava enfraquecer minha determinação.

Finalmente, cheguei à praça central. O cenário diante de mim era tão repulsivo quanto eu havia imaginado. Rasputin Strogonoff, o necromante, estava ali, seu violino apoiado casualmente no ombro. Ele movia os dedos sobre as cordas com precisão diabólica, cada nota um comando para sua horrenda orquestra de mortos-vivos. Os corpos ao redor de mim dançavam em sincronia com sua melodia sombria, seus movimentos distorcidos refletindo o prazer sádico de seu maestro.

O sorriso nos lábios de Rasputin era de puro deleite, seus olhos brilhando com uma malícia perturbadora.
— Ah, finalmente! A estrela do espetáculo chegou! — sua voz cortou o ar, melódica e zombeteira, como se toda a cena diante de nós fosse uma grande piada, um jogo perverso de entretenimento. Seus dedos jamais pararam de tocar enquanto ele me fitava, como se tivesse ensaiado esse encontro inúmeras vezes em sua mente. — Você nem imagina a minha alegria quando senti sua energia... Quando percebi que um arcanjo havia decidido participar do meu humilde show!

Minhas asas se abriram de forma imponente, irradiando uma luz que contrastava violentamente com a escuridão ao redor. As sombras tremeluziram diante de mim, enquanto os mortos se afastavam involuntariamente, como se temessem o poder que carregava. Com Solcalibour erguida, deixei minha voz ressoar com a autoridade divina que me foi concedida.
— Rasputin, seu espetáculo termina aqui. Você não dançará mais sobre os ossos dos inocentes.
O sorriso do necromante se alargou, quase frenético, enquanto ele inclinava levemente a cabeça — Veremos, arcanjo... Veremos se sua luz pode apagar as trevas que já tomaram este palco.

O confronto estava prestes a começar, e eu sabia que Rasputin não era apenas um inimigo qualquer. Ele havia se preparado para essa batalha, e sua confiança desmedida me dizia que essa seria uma luta onde muito mais do que força seria necessária para vencer.

Antes que eu pudesse dar outro passo, Rasputin mudou o ritmo. O som do violino se transformou em uma melodia absurda e ridícula: o "Ritmo de Samba". A dissonância daquela música profana no meio de um cenário tão grotesco era uma afronta, um insulto à minha própria existência. Senti meu corpo tremer por um momento, quase cedendo à força da magia perversa que Rasputin projetava com sua música. Meus pés começaram a se mover involuntariamente, arrastados por aquela melodia nefasta. O ridículo da situação fez o sangue ferver nas minhas veias.

— Eu, Ambriel, um servo de Hélia, preso em um espetáculo cômico? Um arcanjo, caído diante de uma dança?

Minhas mãos apertaram o cabo de Solcalibour com tanta força que senti a lâmina vibrar, quase como se refletisse minha indignação. Canalizei a Energia Divina, sentindo a luz de Hélia percorrer meu corpo, purificando minha mente do controle insidioso daquela melodia. O som das cordas do violino lutava para me dominar, mas minha vontade era mais forte. Com um grito furioso, que ressoou como trovão pela praça, expulsei a influência maligna e firmei meus pés no chão, erguendo Solcalibour mais uma vez.

Os esqueletos ao redor de Rasputin começaram a se mover de forma frenética, como se estivessem possuídos por uma euforia grotesca. Seus ossos batiam uns contra os outros, criando um barulho infernal, formando uma barreira que parecia impenetrável. Rasputin olhou para mim com aquele maldito sorriso travesso nos lábios e murmurou com deboche: "Requebra o esqueleto."

A fúria dentro de mim borbulhava a um ponto quase incontrolável. Rasputin, com sua zombaria e truques, ousava tratar a morte, a vida, e até mesmo o combate sagrado, como se fossem um mero espetáculo de circo. Minha paciência havia se esgotado. A indignação que queimava em minha alma começou a transbordar, se manifestando em uma força muito mais poderosa do que qualquer magia trivial de controle.

—  Você acha que esses truques patéticos podem me parar, necromante? — minha voz ecoou, carregada pela fúria justa de um servo da luz. O poder de Hélia crescia dentro de mim, minha aura irradiando com uma intensidade crescente. A energia divina que eu convocava agora tomava forma visível ao meu redor, transformando-se em uma luz abrasadora. Era o prelúdio de uma sentença sagrada.

Invoquei Burn the Faithless.

Minha aura divina expandiu-se em uma onda de luz, e o calor da presença sagrada de Hélia começou a sufocar os mortos ao meu redor. A luz não os destruiu imediatamente, mas sua simples proximidade trouxe um desconforto inescapável. O riso zombeteiro de Rasputin se transformou em uma careta de desagrado enquanto a muralha de esqueletos ao seu redor começava a enfraquecer, seus corpos quebradiços rangendo sob a pressão da luz divina.

Cada passo que eu dava em direção a ele trazia mais calor, mais luz, e a cada momento que passava, a música de Rasputin soava mais fraca, como se estivesse sendo sufocada pela minha presença. O necromante percebeu que sua orquestra de mortos começava a hesitar, e seus olhos, antes cheios de malícia, agora mostravam um lampejo de incerteza.
Minha fúria e a luz de Hélia não seriam paradas por truques de um bufão macabro.

Rasputin, percebendo que seus truques iniciais eram inúteis contra a determinação de um arcanjo, entrou em um frenesi maníaco. Sua mão correu pelo violino, e a melodia que emergiu não era apenas rápida; era desumana. As notas vibravam no ar com uma intensidade que fazia o solo ao meu redor estremecer. No mesmo instante, ossos começaram a se erguer do chão como lanças afiadas, impulsionados por uma energia maligna que se projetava contra mim de todas as direções.
Eu mal tive tempo de reagir. Bati as asas com força, arremessando-me para cima, enquanto as lanças ósseas cravaram-se ao meu redor como uma chuva mortal. Mas a cada movimento de Rasputin, a música mudava de tom, e as lanças se redirecionavam, como se tivessem vontade própria. Minha visão periférica captou flashes das pontas ósseas passando perigosamente próximas. Um segundo de hesitação, e uma delas me atingiu de raspão no ombro, rasgando carne e fazendo sangue escorrer.

A dor era intensa, e senti o peso da energia profana pulsando através do ferimento, como um veneno que tentava enfraquecer minha resistência. O som rítmico e hipnótico de Rasputin parecia zombar da minha luta, e seu olhar brilhava em deleite ao ver o sangue escorrer de mim.

Mas eu não podia parar. Estreitei o foco e ergui Solcalibour com um grito de determinação. Canalizei minha energia, misturando minha luz sagrada com a força bruta que havia aprendido nas guerras celestiais -  Solcalibour! - Minha voz ecoou, e a espada respondeu ao meu chamado com um brilho ofuscante. Um corte energético saiu da lâmina, atravessando o ar e explodindo contra Rasputin, derrubando os esqueletos ao seu redor e abrindo uma área de respiro na praça.

Por um breve momento, a música parou, e Rasputin cambaleou, surpreso com o poder da explosão. Achei que talvez tivesse finalmente rompido suas defesas. Mas ele riu, seu sorriso ampliando-se em algo quase insano, e com um gesto violento, reiniciou sua melodia, ainda mais rápida e perturbadora. O chão tremeu, e desta vez, não foram apenas ossos que surgiram. Formas mais sólidas emergiram – cadáveres inteiros, ressequidos, erguiam-se dos escombros ao seu comando, movendo-se em minha direção com velocidade aterradora.

Os mortos avançaram, e antes que eu pudesse preparar outra defesa, senti um golpe violento em minhas costelas, empurrando-me contra o chão. Um segundo cadáver avançou, atingindo minha perna com uma força brutal. A dor era sufocante, mas mesmo caído, reuni forças para contra-atacar. Girei Solcalibour em um arco, destruindo os mortos ao meu redor em uma explosão de luz.

No entanto, Rasputin não parava. Ele redobrou o ritmo, e seus mortos avançavam sem cessar, como se fossem infinitos. Minha energia começava a se esgotar, e a dor de cada golpe acumulava-se, tornando difícil manter minha concentração. Senti minha respiração se tornar pesada, meu corpo enfraquecendo sob a pressão do combate, mas recusei-me a ceder.
Enquanto Rasputin se deleitava com a visão do meu sangue misturado ao pó dos mortos, meu olhar encontrou o dele. Eu sabia que ele percebia minha exaustão, e a alegria sádica em seu rosto era clara. Mas ele subestimava o fogo que queimava em minha alma – a mesma chama que me permitia erguer-me, mesmo das cinzas.

-  Isso ainda não acabou, Rasputin.

- Vamos, vamos todos dançar! — Rasputin gritou, sua voz ecoando pela praça enquanto ele puxava as cordas de seu violino com uma habilidade macabra, conjurando o feitiço Dance Até a Morte. Ao som da melodia, um arrepio percorreu minha espinha, e antes que pudesse reunir minha força para resistir, meus pés começaram a se mover contra a minha vontade. Tentei deter o impulso, mas minhas pernas obedeciam apenas à música, balançando e girando como se eu fosse apenas mais uma marionete na orquestra de mortos.

Ao meu redor, os esqueletos moviam-se em uma dança descontrolada e frenética. Eu tentava focar minha mente para retomar o controle, mas o feitiço de Rasputin era poderoso. Ele ria ao me ver lutando, sua voz cortando a melodia como uma zombaria cruel - Ah, que visão maravilhosa! Um arcanjo dançando ao som da minha sinfonia! Deve ser a primeira vez que algo tão celestial sucumbe ao poder de um mortal, não é mesmo, querida?

Minhas mãos ainda apertavam a espada, mas cada tentativa de retomar o controle era frustrada pela força do feitiço. Minha raiva crescia a cada palavra de deboche de Rasputin, e senti o calor familiar da fúria queimando dentro de mim, irradiando-se por minhas veias. As cicatrizes em minha pele, abertas pelas energias profanas de anos de tortura, começaram a brilhar com uma luz esverdeada, uma manifestação tangível de minha ira se entrelaçando com a mácula necromântica.
Os minutos passavam, e a melodia, uma tortura constante, obrigava meu corpo a continuar dançando. Eu sentia o peso do cansaço físico começando a me dominar, meus músculos exaustos queimando em agonia, enquanto minha mente clamava por uma oportunidade de reagir, de silenciar aquele violino de uma vez por todas.

Minha respiração estava irregular, meus olhos fixos em Rasputin, que continuava sorrindo, ciente de sua vantagem. Mas o olhar que lancei a ele prometia vingança – e ele sabia que minha ira só estava aumentando. Sabia que a dança logo terminaria, e que, quando isso acontecesse, eu colocaria fim ao espetáculo sombrio que ele tão cruelmente orquestrava.

Minha mente estava presa nas correntes do feitiço, cada músculo gritando por descanso enquanto Rasputin ria de seu domínio sobre meu corpo. Mas minha alma clamava por liberdade. Eu não podia mais suportar a humilhação, o cansaço, o controle vil daquele necromante. Era insuportável pensar que ele, um ser tão torpe, ousava brincar com o corpo de um arcanjo.

Minhas mãos tremiam ao tentar retomar o controle, mas cada tentativa era frustrada pelo encanto maligno. Então, numa decisão desesperada, pressionei minha própria mão contra o cabo da Solcalibour, afundando-a com força nas runas cortantes da lâmina. A dor foi fulminante, rasgando a névoa de controle que Rasputin exercia sobre mim. Senti o sangue escorrer, mas a clareza da dor queimou o feitiço de sua melodia e minha mente foi, enfim, libertada.

Liberta, ergui a cabeça e encarei Rasputin com uma fúria que ele não esperava. Sua confiança desmoronou quando me viu renascer da própria agonia. Ele ajustou o violino, já visivelmente preocupado, e convocou sua Valsa dos Mortos. Dois esqueletos surgiram ao seu lado, seus movimentos rítmicos dançando em minha direção como uma última linha de defesa.
Mas agora, não havia mais nada que pudesse me parar.

Com um movimento resoluto, ergui Solcalibour e canalizei Purge the Faithless. Uma rajada de fogo divino se espalhou em direção aos esqueletos, incinerando-os antes que pudessem sequer tocar minha armadura. As chamas de Burn the Faithless continuavam a crepitar ao meu redor, cada vez mais intensas, e Rasputin, sentindo o calor crescente da justiça sagrada, hesitou, a segurança dando lugar ao medo.

Ele finalmente entendia que seu espetáculo estava para acabar – e que sua sentença estava nas minhas mãos.