[Auto Narrada/Fechada +18] - Aos Verdadeiros...Foz Dourada

O dia já havia raiado a muito tempo, mas as horas já pareciam ter se perdido em minha mente a ponto de só considerar ser de dia, devido ao sol que brilhava pelas janelas, havia estado em Foz Dourada por quantos dias? Três, quatro dias? Não importava tanto, ainda havia algumas poucas moedas para gastar e a hospedagem só me daria direito a mais uma noite, embora me impressionasse o fato de ainda não ter sido expulso do local por excesso de barulho durante as madrugadas. - Eu cubro! - dizia antes de virar um shot de bebida. Mesmo o álcool pouco importava, vodka, rum, vinho tudo já parecia ter o mesmo sabor e na real, só o que me interessava mesmo era continuar consumindo, enquanto o largo sorriso surgia em minha face. - Vamos…qual o medo? - batia com o copo na mesa, provocando aqueles que a dividiram comigo em um carteado. Havia perdido mais do que ganhado era fato, mas era realmente de causar indignação o quanto eu chegava próximo de ‘quebrar’ e simplesmente retornar daquelas ‘cinzas’.

Se eu ganhar, talvez a gente possa comemorar numa casa de banhos. - dizia com um sorriso safado, ao pé do ouvido de minha acompanhante. Neirelle era uma Phytonidae conhecida de longa data, costumava estar sempre comigo quando visitava Foz Dourada anos atrás e o desfrute de sua companhia era tão bom pelo simples fato de que diferente de outras, ela nunca se importou tanto em estabelecer compromissos ou vínculos mais fortes. Beijava-lhe entre uma rodada e outra, enquanto ela permanecia com seu corpo enrolado em minha cintura, com sua cabeça repousada em meu ombro, descansando um pouco da agitação que havia sido a noite. Jogava as cartas na mesa, um full house de arrancar xingamentos e indignações em um primeiro momento, mas gargalhadas logo em seguida. - Não se esqueçam que não podemos jogar truco aqui…já bastaram as brigas e mesas quebradas! Hahahaha! - gargalhava, era aquele o tipo de ambiente que gostava, apesar de que sabia que o estava desfrutando pela eminente necessidade de ter de buscar algo para fazer logo em seguida.

Bom senhores, lamento mas receio ter chegado no meu limite… - dizia, recolhendo o baralho, manuseando-o com uma destreza impressionante, enquanto emudecia a todos na mesa, que me observava sem entender nada. - …é chegado o momento na vida do homem que temos de tomar decisões maduras, atitudes louváveis. Ter culhão para acatar os desafios da vida, por isso não posso continuar desse jeito… - olhava-os seriamente, batendo com o baralho na mesa. - …A PARTIR DE AGORA É TUDO OU NADA NAS APOSTAS! O DOBRO OU NADA! E PRA QUEM PERMANECER, A RODADA DE BEBIDA É MINHA HEIN! - berrava, literalmente berrava em meio às risadas que eclodiram logo em seguida. Distribuía as cartas, pronto para a próxima rodada.

VAMOS! VAMOS! - os gritos permaneciam, conforme batia de maneira ritmada na mesa, como se tocasse alguma canção que só era compreendida por mim, um hino de provação conforme observava dois desistentes se ausentar, claramente não preparados para o desafio. - Sem apostar a pensão da filha dessa vez? Hahaha, hoje a garota vai comer mais do que uma rainha! HAHAHAHA! - as palavras até soavam ofensivas, mas acho que já haviam se acostumado ao meu jeito. - Ascenda para mim querida! - pedia a Neirelle, que acendia um pequeno, porém longo cachimbo de madeira, onde ostentava alguns ornamentos de metal. Não era exatamente um viciado, mas com tanta bebida, um trago não faria mal. Deixa minha acompanhante fumar do mesmo antes de levá-los aos meus lábios, onde puxava a fumaça, deixando-a escapar suavemente pelo meu sorriso.

Ninguém mais!? - Questionava, erguendo os braços exageradamente, até notar que alguém se aproximava. - Parece! Isso aqui é do caralho meu nobre! - olhava-o de cima a baixo, não disfarçando a estranheza por seu estilo engomado. - Claro que permito, não é sempre que temos lagartos alados na mesa! - Ria, mas de uma forma mais irônica, com o cachimbo pendurado no canto de minha boca, embaralhando as cartas enquanto olhava fixamente por algum tempo. Até uma nova presença surgir, essa pelo menos parecia ter se interessado por algo mais. - Pelo menos essa rodada é! Sente-se, a viagem deve ter sido longa! - dizia, alargando o sorriso enquanto assoprava fumaça, tirando o cachimbo de meus lábios, apenas para que Neirelle o segurasse com sua língua longa e bifurcada, levando-o de volta para seus lábios. - Você tá fedendo a maresia e rum, se não for um bêbado que trabalha no cais, é alguém que acabou de chegar na cidade. - apontava para o draconídeo. - Igual nosso amigo iguana aqui, só que ele fede a enxofre, como qualquer dragão e isso afasta o cheiro da bebida hahaha! - batia com o baralho na mesa.

Então! Tudo ou nada! Confiaria na honra dos senhores, de que os perdedores darão tudo o que tem de valor em espólio de um embate honesto contra o vencedor da mesa! Lembrando sempre! Quanto mais ilícito e incorreto for o que vocês tiverem a oferecer, melhor! - a bebida chegava, rum da garrafa que dava para pagar. - Mas primeiro o brinde! - pegava o copo, erguendo-o e aguardando os demais me acompanharem, incentivando-os a fazer o mesmo com animação. - BRINDE! BRINDE! BRINDE! - tomava a bebida inteira, antes de gargalhar e suspirar de prazer. - Hmmm isso está ficando bom! - habilmente, jogava as cartas para cada um, um par para a dupla que chegava, um para mim e outro para Aquino Rego, um pobre mendigo que jogava conosco apenas por ter um nome engraçado e dois dentes na boca, que ajudavam a abrir algumas garrafas que estivessem muito difíceis de romper o lacre, mas que um dia, dizem as má línguas já ter sido um homem bem sucedido, antes de se separar da mulher. - Sabem as regras, vejam suas cartas, apostem, ou desistam! A rodada continua com a exibição das cartas da mesa, ganha aquele que tiver a mão mais forte com uma combinação de cinco cartas! Como desistir não existe, abandonar a mesa é abandonar o que tem. - olhava para minhas cartas. - Mas eu dobro a aposta, tudo o que tenho, uma hospedagem e uma noite com ela! - apontava para Neirelle e a mesma ria, dando aos homens algumas piscadelas. - E os senhores?

Se não for para apostar tudo, qual o sentido de estarmos vivos? - gargalhava, em resposta ao draconídeo, enquanto distribuía as cartas. - Isso é papo de quem nunca transou no mar HAHAHAHA! Mas eu peguei a ideia! E não, não tenho um nariz tão bom a esse ponto, só estou acostumado com viagens! - após distribuir as cartas, notava a língua de Neirelle se aproximar com o cachimbo. - Obrigado querida! - dizia, pegando o cachimbo com a boca. - Melhor deixar as roupas para depois mesmo, tem uma Tauren que está me olhando demais desde que cheguei, tenho medo do que ela pode fazer se ver meu corpo escultural. - continuava a rir, soltando a fumaça com tranquilidade, enquanto observava minha mão. - Pai tá com sorte! - dizia, mesmo sabendo que a mão era perigosa. - Já coloque as moedas na mesa! - dizia, tirando três cartas do baralho com velocidade assombrosa, deixando-as no centro da mesa.


Realizava um suspense, virando-as em seguida, uma combinação horrenda. - Misericórdia! Isso é sorte! - ria, suspirando, enquanto relaxava sob o corpo de Neirelle. - É meu amigo Aquino, acho que você vai ter de dormir na sarjeta de novo, mas pelo menos você vai ter companhia hoje. - apontava para a dupla, enquanto puxava duas cartas, deixando-as sobre a mesa. - MAIS UMA RODADA! MELHOR, DUAS! - gritava, sinalizando com o braço levantado. - Senhores, temos mais duas cartas para revelar, já que é tudo ou nada, não existe dobrar, cobrir, ou desistir. Vão ter de virar o caneco! - pegava a bebida assim que ela surgia na minha frente. - Ao destino? - alargava o sorriso, esperando que eles me acompanhassem. - A propósito, quando perderem, o que pretendem fazer? Vocês não parecem estar aqui pela esbórnia. - puxava um assunto inusitado, ao menos para mim.