[Auto Narrada/Fechada +18] - O diferente assusta ou atrai?

Sinceramente? Entendia parcialmente o que Eris falava naquele momento, fosse pela embriaguez ou pela beleza cativante da moça que conseguia me prender em um transe psicodélico onde começava a ver não apenas um par de chifres, mas dois, assim como seu rosto as vezes embaçava e voltava ao normal.

- Esses bichos? Eles apanhariam para o mais fraco guerreiro deste bar não se preocupe, eu te pro- Ela falava o que pretendia e isso tirava uma gargalhada de minha boca – Ora ora, você ainda acha que teríamos uma luta justa? Convenhamos com esse teu lindo corpo e rosto você faria uma ótima mulher, agora combatente não é a melhor aposta.

- Mas veja bem, não estou te desmerecendo, só acho que você diferente das trogloditas que se vê por aí tem qualidades físicas acima da média – Minhas bochechas se coravam, não era da minha natureza elogiar e era algo que havia feito poucas vezes – Lembro de Goblins que encontrei anteriormente em um bar, aqui em Foz Dourada, cerca de quatro anos atrás, elas eram interessantes, compartilhavam do mesmo dom que o seu.

Começava a rir conforme ouvia a fala de Eris, concordando com o rosto enquanto afastava as lagrimas de felicidade com a ponta dos dedos, era difícil se manter no equilíbrio quando uma janela misteriosa que parecia aparecer somente para mim já que ninguém no ambiente expressava qualquer estranheza.

Cem flexões e cem abdominais, um desafio interessante que encaixava perfeitamente na fala de Eris em provar-me superior a ela – Que tal, ao invés disso, temos que fazer cem flexões e cem abdominais sem parar, a cada vez que pararmos por cansaço devemos beber, vence quem completar a sequência?! O que acha? Ou é difícil demais para você donzela?

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A gargalhada sarcástica fazia com que eu me sentisse cada vez mais incendiada de raiva contra o ser divino, por algum motivo, eu que nem era disso, estava com vontade de superá-lo e provar do que era capaz, apenas para fazê-lo calar a boca.

Meu rosto avermelhado só não era imediatamente interpretado como raivoso por conta da quantidade exorbitante de álcool em meu corpo. - O quê? Você acha que eu quero ser forte como homens como você, que são bonitinhos? Faça-me o favor, eu quero ser forte como aquelas malucas que lutam com ursos na floresta. - Chegava mais perto dele, claramente já cambaleando. - Esse corpinho bonito aqui faz muito mais do que você está imaginando.

Contudo, apesar de minhas palavras em tom desafiador, algo naquela conversa me cativava. Eu poderia ficar horas aqui discutindo com o tal ser divino e querendo me provar para ele e, por mais estranho que pareça, acredito que ele estivesse sentindo a mesma coisa.

Antes que eu pudesse responder, porém, uma janela com escritas aparecia em frente aos meus olhos. Confusa, olhava ao redor e parecia ser algo único. Na verdade, Micael também notava algo em sua frente, só não sabia se era o mesmo que eu ou se estava surpreso por ver minha cara de espanto.

Não precisei ponderar muito, uma vez que ele logo me convidava para fazer exatamente o que estava escrito na janela misteriosa. - Haha, difícil? Espero que tenha um fígado forte. - Sem pestanejar, praticamente me jogava no chão, já caindo na posição ideal para fazer flexões. - Vai fazer ou ficar ai contando?

Rapidamente começava, mas não era tão fácil quanto imaginei. Perdi as contas de quantas vezes parei e tive que beber, e isso não só nas flexões, como também nas abdominais. Eu não sei se foi força de vontade, rivalidade ou apenas álcool, mas por um milagre, consegui completar o desafio depois de um tempo considerável, que até que passou rápido, dada a quantidade de bebidas.

Prontamente Eris começou e sem pressa comecei também. Uma cena bem atípica para aquele tipo de estabelecimento onde o foco era beber e não se exercitar, mas ao menos o dono não se incomodava já que com o passar dos minutos íamos pedindo mais e mais bebidas.

- Veja bem Eris... Eu... Vou... Vencer e você vai ficar me devendo uma... – Era difícil de se concentrar e no meio da fala acabava parando por exaustão e logo recebendo um copo de bebida o qual ingeria afastando a sede.

Fato era, as abdominais eram muito mais difíceis que as flexões, talvez fosse pela resistência já existente no peitoral por sempre se manter cheio quando estava com minhas asas a mostras, mas quando chegou na hora das flexões, foi aí onde gastei mais tempo.

Enquanto nas abdominais consegui tomar apenas três copos de bebida, na hora das flexões eu cheguei a perder a conta de quantas vezes cai ao chão com dores no abdômen irritado sabendo que deveria beber. O ponto que alivia tudo era notar que Eris também seguia um ritmo parecido.

Quando consegui finalmente completar o desafio cai de barriga para cima e de forma ofegante ficava alguns minutos respirando, olhando em volta com a vista completamente turva eu conseguia olhar para Eris, então dizendo para ela – Parece que eu venci – Não sobrava tempo, ao fim da fala batia com a cabeça ao chão e desmaiava.

Conseguia sentir que estava sendo carregado e levado para outro ambiente, alguém me soltava em uma superfície macia e aconchegante e a ultima sensação que eu sentia era em abraçar alguém a minha frente, sentindo-me quentinho e protegido naquele momento.

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Micael logo me seguia, e por mais que tentasse manter sua pose arrogante, sua respiração instável e falas esbaforidas não lhe ajudavam muito. Em meio às minhas próprias dificuldades, soltava uma risada verdadeira, aquilo era no mínimo divertido.

Para nossa sorte ou azar, estávamos em um ritmo bastante parecido, ele acabava quase que ao mesmo tempo que eu, caindo no chão de forma nada elegante. Contudo, sua fala reforçava a personalidade que já havia demonstrado até o momento. - Venceu?! Isso foi claramente um empate! - Não sabia se ele havia ouvido, mas não importava muito.

Eu apenas soube que demoramos quando finalmente acabei as abdominais e sentei no chão em busca do barman, que não mais se encontrava por ali. Os clientes também já tinham ido para suas casas ou quartos no andar superior. No salão, apenas duas pessoas continuavam, um ser divino e uma híbrida de humano com demônio, ambos exaustos e podres de bêbados.

E assim, sem mais nem menos, caía de costas no chão, dormindo quase que imediatamente após o impacto. Encolhia-me na posição em que costumava sempre dormir e a última lembrança foi um balanço suave e o calor de alguém ao meu lado. Há anos não dormia tão bem.