Últimos assuntos
» [Auto Narrada/Off] Cães Ladram e lobos Mordempor Tomita Hoje à(s) 1:40 pm
» ~Talentos~
por Tomita Hoje à(s) 9:01 am
» [OFF / Fechada / +18] As desventruas de uma Succubus Preguiçosa ~ Chapter 01
por Lilith Hoje à(s) 4:22 am
» [Auto] I am the righteous hand of God
por Formiga Ontem à(s) 6:19 pm
» ~Loja de Créditos~
por Jean Fraga Ontem à(s) 11:46 am
» [Ficha Player] Siv
por Jean Fraga Ontem à(s) 10:13 am
» ~Npcs, Pets e Invocações
por Furry Seg Nov 25, 2024 8:36 pm
» [NPC] Lili Tús
por Furry Seg Nov 25, 2024 8:36 pm
» [Narrada/Fechada +18] - Noisy Rains – The Dragon Riders
por Furry Seg Nov 25, 2024 8:07 pm
» [Evento/Missão Dinâmica] Special Grade x Lady D.
por Jean Fraga Seg Nov 25, 2024 11:18 am
» [Auto Narrada/Fechada] Dragões de Porcelana
por Morrigan Seg Nov 25, 2024 12:05 am
» [Carta/Cast] - Rainha Tomita I
por Akamio Fateburn Dom Nov 24, 2024 7:44 pm
» [Narrada/Fechada] Os Desajustados
por Ink Dom Nov 24, 2024 12:42 pm
» [DDCast/WorldBox] - Edição 6
por Ink Sáb Nov 23, 2024 8:40 pm
» Apolo Aurelius Lionsheart
por Jean Fraga Sáb Nov 23, 2024 10:00 am
» [Narrada/Fechada/18] - Um Automato em Bathest
por OverLord Sáb Nov 23, 2024 2:18 am
» [FP] Mazel Ambrosi
por Formiga Sex Nov 22, 2024 8:36 pm
» [Evento dinâmico] Entre Planos: Avante Einsewell
por DA do Ineel Sex Nov 22, 2024 1:32 pm
» Hora do Rango - Parte 2
por Garota Cavalo Qui Nov 21, 2024 11:51 pm
» [FP] Aiken Dragrúar - Construção
por Furry Qui Nov 21, 2024 6:42 pm
[Auto Narrada + 18] November Rain, Bright and Briar
3 participantes
Dark Dungeon World :: Mundo :: Continentes :: Continente de Greenleaf :: Urco
Página 3 de 3
Página 3 de 3 • 1, 2, 3
[Auto Narrada + 18] November Rain, Bright and Briar
Relembrando a primeira mensagem :
「R」
November Rain, Bright and Briar
Bright and Briar
— Ano/Estação: 841 DG / Primavera
— Pessoas envolvidas: Lyora Stardust, Haruka Futaba
— Localidade: Urco
— Descrição: Lyora está em busca da Dead Garden que deve acompanhar na missão em Urco, uma moça conhecida como Haruka, está a sua procura para fazer a missão que vem a seguir.
— Tipo de aventura: Auto Narrada
— Aviso: Álcool, violência, linguagem Explícita.
— Pessoas envolvidas: Lyora Stardust, Haruka Futaba
— Localidade: Urco
— Descrição: Lyora está em busca da Dead Garden que deve acompanhar na missão em Urco, uma moça conhecida como Haruka, está a sua procura para fazer a missão que vem a seguir.
— Tipo de aventura: Auto Narrada
— Aviso: Álcool, violência, linguagem Explícita.
_______________________________________________
LyoraStardust- Créditos : 0
Mensagens : 21
Data de inscrição : 17/08/2024
Re: [Auto Narrada + 18] November Rain, Bright and Briar
Bananas Grandes e Elfos Suspeitos
A felina estava segura, apesar de minha preocupação, ela era habilidosa, não que em qualquer momento minhas ações duvidasse dela, ou dos outros ao meu redor, era apenas a mais pura e simples preocupação, gentileza, era o certo pra mim. Como deveria ser. Era assim que me sentia em relação aquilo. Apesar disso, suas ações não passavam em branco por mim, eu podia sentir seus cabelos conforme ela encaixou sua cabeça, e deitei meu queixo sobre ela deixando que seu ato fosse atendido com carinho e graça, como merecido.
Apesar disso, o desenrolar fora, de testes, ameaças e golpes, o que fez com que tudo aquilo fosse um tanto hostil, o que era no mínimo esperado, afinal, nosso rapaz era um desconhecido, que parecia também ignorar os atos em questão. Talvez ele não se sentisse ameaçado por nós, o que era um erro da parte dele, mas claramente era o melhor cenário para mim, temor gera cautela, era melhor que ele estivesse disposto a cooperar do que ficar desconfiado de pequenos atos e ações.
No fim, a felina me confirmou que aquele era o caso o escorpião era mesmo a pessoa que estava buscando, e eu teria de levar ele, claro, eu tinha meus termos, além disso as tais relíquias solares muito me instigaram em minha decisão, digo… Elas não eram um fator decisivo, mas valia o risco de sua companhia e meus serviços de locomoção. Estava tudo se resolvendo, depois de muita conversa, o que me deixava atenta ao fato de que nosso grupo certamente não era dos mais fáceis de se lidar.
Mas antes que eu pudesse dar a partida a felina que se apoiou em meu colo, tinha certas exigências, sobre não ser chamada de um certo nome, ou coisa parecida. A presença que ela citou me confirmou uma coisa, mas me deixou outra ambiguidade no ar, eu tinha quase certeza que uma força estranha estava cercando ela, que não se tratava de Apatti. O que me fez erguer a sobrancelha e levar a mão até o queixo.
Aquela afirmação me deixou pensativa, não iria eu iniciar um interrogatório agora, para saber dessa outra energia, já não queria perder mais tempo ali, nem mesmo para tirar essa pulga que fincou-se como um carrapato atrás da minha orelha.-Primeiro de tudo, não acho que deva se envergonhar sobre Apatti, ela é assim como Helia parte do ciclo natural deste mundo, tal qual Eluna, Mors, ou mesmo Kerana. A natureza nos dá e nos tira. Mas não a culpo, apenas expressei o que penso, eu sou assim. - disse com firmeza e um olhar calmo, não a repreendendo, ou mesmo tentando lhe forçar uma devoção por algo que não parecia lhe trazer orgulho ou felicidade.
Era meu ponto de vista, como alguém que se afundou aprendendo religião, observando a natureza, e como o ciclo funciona, se dedicando ao clericato e às cruzadas durante toda a vida. Mas havia outra coisa que eu podia falar com bastante certeza, e isso era sobre mim, sobre a relação que estávamos construindo naquele momento, como segui uma tradição militar, não me sentia confortável de ser tratada como uma superior, sem uma patente equivalente para demonstrar isso.-Já quanto “servidão” não entenda errado. Nesse momento divido a mesma patente que você, sendo assim, a Senhorita Pedidos não possui qualquer obrigação para comigo, a menos que deseje assumir para si tais coisas, mas não sou no momento nada além de uma mulher comum.-Eu não iria dizer muito mais que isso se ela desejasse me servir.
Apenas uma questão de esclarecer a situação, se ainda assim ela desejasse, não teria objeções a isso, deixaria que ela subisse e se acomodasse tranquilamente enquanto faria um carinho atrás de usas orelhas, e passando sobre as costas, seguido de um pouco abaixo do queixo, antes de acelerar a moto e partirmos para o destino. Ao qual foi interrompido pela busca de água. Me aproximei daquela pequena fonte, e comecei a coletar, conforme o homem das terras solares se aproximava, fazendo questionamentos pertinentes, sobre o que eu deveria fazer.
Planos? Bem, eu tinha muitos, apesar de que acredito que ele só deseje saber a próxima etapa e não dos milhares de esquemas e emaranhados que foram traçados, alguns a séculos atrás, e outros mais recentes.-Por agora só devemos fazer uma varredura, achar os Achitya e simplesmente eliminar todos eles, em seguida, contatar a organização, e descobrir o próximo paradeiro para o qual a missão vai nos levar. Talvez rastrear mais casos por essas terras, ou simplesmente partir a um novo lugar.-Disse explicando tudo que estava nos planos mais recentes, o que era meramente seguir dizimando essas criaturas, o que se refletia na erradicação delas a longo prazo.
Agora quanto ao banho quente aquilo me fez ficar pensativa, seria de fato produtivo, mas não tinha tempo pra algo assim agora. Mas fontes termais seriam certamente uma das coisas que deixariam meu dia mais leve.-Termas seriam realmente algo tentador, mas só estou armazenando pra mais tarde, meu banho não vai ser exatamente agora. Mas de fato um bom gosto, termas são revigorantes.- E sorri levemente olhando para ele, enquanto guardei ergui os recipientes, voltando para a Eagle.
Ali eu fui organizando os recipientes que ficariam na parte de baixo dele, enquanto escutava os apontamentos da felina, eram perguntas pertinentes, já que o mapa lhe era confuso, e com razão por que definitivamente isso aí era um rascunho, mapa é uma palavra forte pra falar daquilo.-Existe muito sentido na sua preocupação, Senhorita Cauda Agitada, começa com isso aí nem ser um mapa direito… Eu estudei geografia, e se tem algo que posso dizer é que esse negócio é um projeto. - Mas antes que eu terminasse acabei inflando as bochechas e segurando o riso, quando a vi jogar o tal mapa que apenas flutuou e caiu pertinho.
Engoli a gargalhada dando apenas um risinho curto que não fui capaz de esconder, diante da frustração da felina.-Mas não se deve preocupar Senhorita Fúria Fofa, nós podemos investigar todos os lugares rapidamente. Não há por que pensar tanto nesse detalhe, no fim, os Orcs, seus esquemas, seus mapas são… Me desculpe as palavras, duras mas, para o nosso trabalho, uma distração, e posso acrescentar que em partes, perda de tempo. Como você mesmo disse, eles não guardam registros, e não exatamente se importam se eu e você teremos sucesso, talvez melhor pra eles se falharmos. O mapa ainda assim é uma pista, mas não diz o suficiente.-Comentei fechando a parte de baixo de Eagle, deixando os recipientes de água seguros a partir daqui. Me ergui e fiz um carinho na cabeça dela.
Tocando o topo levemente e afagando.-Esses caras que você lidou, são um saco, eu sinto muito que tenha ficado tanto tempo envolvida com eles, mas podemos rastrear e eliminar essa criatura em pouco tempo agora, então em partes valeu a pena, você tem relatos, e mesmo que seja um rabisco feio que chamaram mapa… Ele ainda tem algum valor na busca.-E com isso me sentei na moto, mas não para dirigir, e sim como quem se senta em um banco de praça, eu estava esperando mais opiniões, da própria felina e do elfo.
Nº de Posts: 7
Vida 660/660
Energia 2250/2250
Ganhos N/A
Perdas: N/A
LyoraStardust- Mensagens : 21
Data de inscrição : 17/08/2024
Re: [Auto Narrada + 18] November Rain, Bright and Briar
A dupla retornava do corpo d'água e eu falava como se nunca sempre estivessem ali comigo, mesmo com Ban'nin me encarando intensamente. Lyora fora direto para seu cavalo de ferro e acoplou o que seriam tanques de água em um compartimento que os mantivesse em segurança. Não entendia nada daquilo, parecia deveras complicado, então apenas me mantinha alheia e não dava muita atenção para isso, mas em meio às minhas reclamações, ela deixava claro que aquele mapa não poderia ser chamado assim e eu concordava totalmente com ela sobre isso.
O movimento brusco advindo de minha ira fez com que Ban'nin desse um passo atrapalhado para trás, tropeçando na grama e erguendo suas asas violentamente, fazendo uma bufada de ar atrás de mim ter minha atenção chamada, onde em um rápido reflexo, tentei puxá-lo pela asa, mas como sempre, tocá-lo não era uma opção (a menos que ele quisesse) e talvez, a minha própria movimentação não fosse necessária e ele bicava meus dedos uma segunda vez, mas agora, ele puxava e sentindo a dor do grosso bico, recuava a mão e sentia as pontas quentes com um sangramento que me retirava um pequeno som assoviado de canto de boca enquanto fechava um olho e escondia o ferimento antes que chamasse atenção dos dois personagens que me acompanhavam.
- ...Como assim "melhor se falharmos"? Os prejudicados seriam eles e gostando ou não, iriam aparecer outros agentes para nos cobrir. Bem... Irá, afinal, não sou apta ao combate, meu rank não permite e sinceramente, não sei se conseguiria enfrentar um achitya com a pouca informação que temos... É para isso que eu sirvo, certo? Digo, uma "deadwomen". - Esperei uma resposta enquanto colocava o dedo na boca, rapidamente. Ele estava dolorido e já não sangrava como um ferimento profundo, mas estava latejando e tê-lo em contato com a minha saliva, o sabor férreo era desgostoso, mas trazia uma sensação de dormência que se tornava lancinante quando eu parava de pressionar entre os lábios, me sentia estancando um sangramento que não existia.
Ela terminou o que tinha que fazer com seu maquinário mágico e seguiu falando sobre como eu não deveria me ater tanto ao que os orcs me forneciam, pois aquilo era basicamente lixo. Também deixava claro que conseguiria visitar qualquer canto daquela região, se assim eu desejasse e não sabia expressar o que senti quanto a isso. Parecia muito fácil, havia algo que ela queria? Não achava que ela era do tipo aproveitadora, mas se era somente viajar por aí, resolver os problemas e voar embora, deveria ter um custo, certo? Gostaria de protestar quanto às palavras dela, mas ela me pegou desprevenida.
Ao se erguer e se distanciar de Eagle, ela vinha em minha direção e mesmo que eu não fosse uma pequena gatinha, ela repousava a mão no topo de minha cabeça, que me fez erguer as orelhas (que bateram nas laterais da palma) e um carinho veio em seguida, diminuindo um tanto de minha fúria e até me fazendo esquecer que chupava o dedo, colocando a cabeça um pouco para o lado enquanto baixava uma orelha para que fosse com mais facilidade para baixo da mão e forçando para que ela não parasse, parecendo que estava me coçando com ajuda da outra, apenas uma forma de disfarçar (muito mal) que estava gostando do chamego.
Então ela se distanciava e se jogava contra a moto como se a mesma fosse um sofá ou algo assim, e não podia negar que sua imagem era imponente. Eu, jogada ao chão em posição de lótus enquanto ela tinha um maquinário raivoso abaixo de si, me olhando... Se estivesse mais escuro ou se a encontrasse em uma situação diferente, certamente teria medo. Minha reação fora extremamente boba, pois apenas a fiquei fitando por um momento.
Lyora era uma espécie de enigma. Ela era bem sincera com o que queria e agia, não parecia encenado, mas em alguns momentos, era também difícil de lê-la. Estava apenas relaxando ou queria dizer algo mais? Não a conhecia direito, isso é um ponto a ser acrescentado e descontado de minha confusão, o que me fazia delirar um pouco se a princesa era assim, realmente tão simples e verdadeira ou guardava algo mais fundo? Havia momentos (que eu preferia ignorar) em que ela parecia até simplória, como os apelidos e forma inocente de falar, e em outros, ela era tão... "Intrusiva" não seria a palavra, mas impositiva e dominadora. Suas palavras eram como uma ordem, não advinda de uma tirana, mas de alguém que estava extremamente segura do que dizia e era fácil acreditar nisso. A maneira com que escorraçou os "estudos orcs", não havia maldade e sim, uma constatação de fatos que era difícil rebater. E por isso eu me mantinha quieta, a observando. Não achava o que falar, como protestar. Retirei o dedo da boca e lambi os lábios para retirar qualquer excesso de saliva que pode ter escorrido junto e não me senti sufocada, mas inábil de conseguir retrucar contra ela.
Me estiquei como um gato faz ao acordar, mas ainda sentada, e peguei o mapa em minha frente. Bati um pouco da terra em meu peito e logo em seguida, do papel rasgado em minha frente. Tentei erguê-lo, mas ainda sentia uma fisgada pela bicada de Ban'nin e me virei para vê-lo. A corvo estava tão obcecado pelo olhar da princesa quanto eu, pois estava quieto a encarando, mas percebi uma coisa nele que era quase que algo nosso: penas em seu bico.
Ele era extremamente estressado e retirar suas penas, em um ato certamente de automutilação, era algo que ele fazia para se acalmar e ele sabia que poderia me ferir, pois eu me regenerava mais rápido que qualquer pessoa que já houvera conhecido, mas ele, poderia trazer problemas para a missão se fizesse isso.
O corvo era surdo, então repreendê-lo não seria de grande ajuda, mas em um movimento rápido, peguei-o pelo bico e dessa vez, ele não teve reação e consegui retirar as penas duras com um sorriso no rosto de ter conseguido fazer isso, mas eu apenas estava me enganando, pois ele prestou atenção em mim. Seu olho negro e brilhoso me fitou e senti como se ele fosse muito maior do que normalmente era e num movimento brusco, ele se desvencilhou e se jogou para trás, mas era desengonçado e em meio ar, bateu forte as asas e se lançou para frente, batendo sua cabeça contra meu queixo, que pela posição, era como se tivesse recebido um soco ascendente que não pude defender ou reagir, apenas bater os dentes e fazer força para não desmaiar, pois mesmo que ele não fosse exatamente pesado, era resistente.
Tentei pegá-lo no que ele voou, nem que fosse pelos pés, mas nunca o tinha visto tão rápido para sair dali. Cuspi um pouco de saliva para ver se havia sangue e por sorte, não havia cortado a gengiva com meus próprios dentes afiados. Me levantei e olhei para o céu, onde o corvo circundava, preparando-se para uma segunda investida.
- Ban'nin! Pare! - Não adiantava falar, ele era surdo. No calor do momento, eu apenas reagi e gritei com ele. Quando eu assoviava, ele sentia a mudança no ar e de vez em quando, isso funcionava. Coloquei os dedos na boca e soprei, porém aconteceu algo que eu não esperava. Talvez o corte fosse mais forte ou profundo do que eu imaginava, mas quando fiz o movimento, um choque me subiu pelo braço e não consegui fazer o som agudo, apenas um gemido de dor e o corvo voltou para mim, em alta velocidade e me acertando na parte de trás da cabeça, sensação essa que era como se uma casa desmoronasse sobre mim.
Em outra ocasião, poderia até ser hilário, mas diante de Lyora e Taliesin, meu corpo caindo como uma boneca de pano em direção ao chão, meu último pensamento antes de desacordar fora "o que eles vão pensar sobre mim?" ia começar a filosofar sobre não ter controle de meu próprio companheiro alado, mas fui com força sentir a terra bater no rosto.
Ban'nin estava agitado, incomodado e seu som, normalmente quase mudo ou esganiçado, agora era quase um grito de desespero, atormentado por algo invisível. O pequenino também estava sobre o solo, se debatendo e batendo a própria cabeça contra grama, arrastando o bico, alguma coisa estava se apossando dele, uma loucura, uma influência muito conhecida pela Dead Garden.
Ao mesmo tempo, enquanto estava livre da consciência, queria muito que Rihla viesse ao meu encontro e me trouxesse um pouco de descanso, mas para meu puro infortúnio, Apatti sussurrava em meio à escuridão.
Eu estava deitada, imóvel e não conseguia enxergar nada, completamente cega pelo breu que me cercava. Meus batimentos estavam acelerados e eu ouvia a deusa rosnando a uma distância que parecia bem longínqua, mas sua presença era próxima, confundindo meus sentidos. Não conseguia raciocinar também, qualquer pensamento que se desenvolvia era cortado como se estivesse se esfarelando e nunca se concluíam. Dado momento, disse que a calma do escuro não era do feitio da deusa, mas falei para mim, não sabendo se aquilo era um pensamento ou fala mesmo. Um meteoro, grande e rodeado de fogo como se uma segundo Erwood caísse sobre mim, vinha com a mesma velocidade que Ban'nin fazia sua investida e minha única reação fora o de gritar.
No que me dei conta, eu ainda estava deitada e quieta, mas com um aperto insuportável no peito, doloroso e que me tirava o fôlego. Ouvi vozes e tentei olhar ao redor, mas sem mover a cabeça, eu só podia ouvir atrás de mim, meus irmão sendo afogados, meu pai espancado e eu, minha própria voz, gemendo e gritando das torturas que eram revividas durante o período em que perdi minha família, mas agora, incapaz de ver ou fazer qualquer coisa, eu só podia imaginar o que estava acontecendo, mesmo que eu soubesse, mas não via, então podia ser tudo uma encenação para me assustar, ou ser coisas muito piores do que eu vivenciei. A dúvida era somada com a minha paranoia e em dado momento, cheguei a suplicar que não me vissem ali, deitada e tão próxima dos horrores e atrocidades, que me ignorassem como se fosse mais um nekomimi morto como os tantos outros que estavam ao redor do lugar que algum dia chamei de casa. Gritei por Apatti, ela que sempre apagou minhas dores com tanta violência da natureza, mas a deusa parecia tão ausente quanto um espectador hipnotizado pelo espetáculo em sua frente, só percebendo que poderia fazer algo após o ato se concluir. Passaria mais um ano assim? Sujeita a todos os sons, as visitas inesperadas e indesejadas quando eu menos esperava? Resolvi morder minha língua, pois sufocar em meu próprio sangue parecia muito mais viável do que passar por aquilo de novo.
Mas eu não conseguia. Era impossível me mover. Meus olhos estavam abertos? Eu estava piscando? Porque estou passando por isso?
Enquanto desmaiada, meu corpo tremia na medida que os batimentos cardíacos ficavam mais rápidos, minha respiração descompassada e meus músculos completamente rijos. Se antes não havia sangue em minha boca, agora a pressão que era feita fazia as gengivas sangrarem e logo eram desfeitas as amarras e voltava à consciência, erguendo as mãos enfaixadas até meu rosto e tentando tirar algo da boca, assim como arranhando meus olhos, numa tentativa irracional de retirar o que me calava e vendava, mesmo não mais sob o feitiço do pesadelo. Por sorte, na forma humanoide, eu não tinha unhas compridas, então não me machuquei muito, mas os cintos que ficavam no peito estavam me pressionando e os puxei com força, tamanha essa que o couro estalou e me joguei para o lado, pois em nenhum momento eu estava respirando e agora, comecei a cavar o chão sem motivo algum e quando tudo que eu via era simplesmente o solo e não mais as faces, o céu, a vegetação e somente a terra, me permiti respirar, abrindo a boca e soltando um grito surdo, livre de sons, mas forte o suficiente para que minha face ficasse vermelha.
Fiquei um momento assim, respirando pesado, ouvindo as vozes de meus irmãos, de meus genitores, todos próximos de mim, meros fantasmas amargurados que não desistiam e tinham somente a mim para continuar suas vidas interrompidas. Me joguei mais uma vez para o lado e soltei os cintos, mas repousei a palma sobre o peito, arfando com a boca aberta enquanto nem ao menos conseguia chorar, apenas sentir como se ainda não tivesse voltado para a realidade. As vozes iam sumindo, conseguia voltar ao que normalmente era e regular a respiração, deitada na grama e olhando o céu enquanto contornava com os olhos cada detalhe de uma nuvem.
Olhei ao redor e me sentei, procurando Ban'nin que conseguira colapsar e fugir dessa realidade para a inconsciência. Mantive o olhar sério, incomodada com tudo que houvera ocorrido "no outro plano" e desejando que ele tivesse um momento de descanso enquanto não estivesse aqui.
- Ly... Taliesin... - Ia falar com a Dead Garden, mas preferi focar um momento em meu convidado enquanto soltava a mão do peito e me encolhia, recolhendo a perna esquerda e massageando as musculatura que relaxava após estar tão tensa sem necessidade. - Peço desculpas para vocês... Eu deveria ser melhor que isso, mas o efeito dos achitya é muito forte sobre mim, por isso eu ainda não subi de cargo. - Queria rir, mas apenas dei um olhar para a grama, esperando um momento para desanuviar a mente e escolher as palavras, voltando o olhar sério para o "Senhor Raposo". - Ban'nin é ranzinza, mas nunca faria uma investida de ataque como essa, no máximo uma bicada ou mordida de protesto ao invadir seu espaço... Talvez estejamos próximos de um achitya, sua presença é mais forte em criaturas como ele. Pensando agora, talvez aquele eletrossauro tenha sido invocado pela insanidade exalada pela criatura... - Mordia a língua visualmente, sem força, apenas mostrando para ambos e dando um sorriso breve. - Eu falo demais... O que quero dizer, é que não será um passeio simples e não posso garantir sua segurança física ou psicológica. Assim que Ban'nin acordar, o mandarei embora e iremos lidar com essa ameaça antes que mais dessas coisas aconteçam.
Suspirei, troquei de perna e olhei para Lyora.
- Princesa... Eu... - Por algum motivo, me sentia humilhada diante da majestade. Era por causa do cargo que ela dizia ter? Taliesin parecia tão alheio a mim que ter tido um surto não me incomodou tanto, mas alguém que fora designada para me auxiliar e ver que eu era tão instável, isso me retirava as palavras. Tirei um momento para pensar e não conseguia mais encará-la, descendo o olhar para seus pés e se eu não sabia o que fazer, fui até Ban'nin e o peguei como um bebê, encarando-o como a covarde que eu era, evitando o olhar solar de Lyora. - Eu preciso documentar isso e enviar para que um Nightwalker venha e termine o nosso serviço. Vocês... Se vocês quiserem ir atrás das relíquias nas cavernas que Ban'nin anunciou, eu darei conta daqui em diante. - Com a mão livre, fazia um movimento brusco para o lado e tentava sorrir, mas dava um passo para frente e mantinha a seriedade, fortalecendo a voz (não ao ponto de chegar a gritar), mas sendo impositiva enquanto as bochechas ficavam vermelhas, afinal, não era de meu feitio ter companhia e me senti muito melhor lidando com essas coisas sozinha. - Essa é a minha missão! Se eu souber que ambos estão em segurança, eu posso garantir a minha! Esse monstro não poderá me afetar se eu não puder afetar vocês! Eu sou um perigo se estiverem comigo! - Meus joelhos fraquejaram e caí com ambos ao chão, temente que ambos se machucassem por conta minha, agora que via e não apenas isso, demonstrava para Taliesin, os terrores que é lidar com um achitya. A voz forte, mas embotada retornava enquanto escondia os olhos sob a franja branca. - No fim da missão, eu irei atrás de você mais uma vez, Taliesin. E Lyora, talvez a Dead Garden faça nossos caminhos se entrelaçarem novamente, mas por favor... Me garantam que vocês irão ficar bem...
Claro que parte do que eu dizia sobre querer me manter só não era apenas por não saber como lidar com os outros e sentir vergonha de mim mesma diante deles, mas também por sempre temer que Apatti viesse dar o ar de sua graça e jogar um maremoto ou o que quer que ela estivesse com desejo de fazer uma desgraça naquele lugar seco que era Urco. Talvez uma avalanche? Não queria que ambos fossem tragados por isso, pois mesmo que a ruiva tivesse uma cerca familiaridade com os frutos do Chaos, ela certamente seria pega de surpresa se após lidar com um problema, um desastre natural viesse logo em seguida, aumentando o risco não só dela, mas do pobre Taliesin que estava nessa por mera conveniência e egoísmo meu.
Eu estava tão focada em falar e não chorar, envergonhada de ter revivido todos meus traumas na frente de ambos (mesmo que eles não soubessem o que vi enquanto estava apagada, mas o sentimento era que, de alguma forma, eles sabiam), que nem ao menos percebi que Ban'nin houvera retornado para nossa realidade.
Em um gesto inesperadamente sensível da parte dele, ele puxou o couro que me escondia os seios e demorei um pouco para perceber isso, mas no que senti o bico afiado tocando na pele macia, olhei-o (ainda escondida pela franja) e o joguei ao alto. Movimento brusco e inesperado, mas que ele usou para pairar no ar, grasnar sem som algum e tomar distância no céu, compreendendo o que eu queria sem ter que dizer ou ele estava acordado o tempo todo e leu as palavras que saíam de meus lábios, não importava.
O movimento brusco advindo de minha ira fez com que Ban'nin desse um passo atrapalhado para trás, tropeçando na grama e erguendo suas asas violentamente, fazendo uma bufada de ar atrás de mim ter minha atenção chamada, onde em um rápido reflexo, tentei puxá-lo pela asa, mas como sempre, tocá-lo não era uma opção (a menos que ele quisesse) e talvez, a minha própria movimentação não fosse necessária e ele bicava meus dedos uma segunda vez, mas agora, ele puxava e sentindo a dor do grosso bico, recuava a mão e sentia as pontas quentes com um sangramento que me retirava um pequeno som assoviado de canto de boca enquanto fechava um olho e escondia o ferimento antes que chamasse atenção dos dois personagens que me acompanhavam.
- ...Como assim "melhor se falharmos"? Os prejudicados seriam eles e gostando ou não, iriam aparecer outros agentes para nos cobrir. Bem... Irá, afinal, não sou apta ao combate, meu rank não permite e sinceramente, não sei se conseguiria enfrentar um achitya com a pouca informação que temos... É para isso que eu sirvo, certo? Digo, uma "deadwomen". - Esperei uma resposta enquanto colocava o dedo na boca, rapidamente. Ele estava dolorido e já não sangrava como um ferimento profundo, mas estava latejando e tê-lo em contato com a minha saliva, o sabor férreo era desgostoso, mas trazia uma sensação de dormência que se tornava lancinante quando eu parava de pressionar entre os lábios, me sentia estancando um sangramento que não existia.
Ela terminou o que tinha que fazer com seu maquinário mágico e seguiu falando sobre como eu não deveria me ater tanto ao que os orcs me forneciam, pois aquilo era basicamente lixo. Também deixava claro que conseguiria visitar qualquer canto daquela região, se assim eu desejasse e não sabia expressar o que senti quanto a isso. Parecia muito fácil, havia algo que ela queria? Não achava que ela era do tipo aproveitadora, mas se era somente viajar por aí, resolver os problemas e voar embora, deveria ter um custo, certo? Gostaria de protestar quanto às palavras dela, mas ela me pegou desprevenida.
Ao se erguer e se distanciar de Eagle, ela vinha em minha direção e mesmo que eu não fosse uma pequena gatinha, ela repousava a mão no topo de minha cabeça, que me fez erguer as orelhas (que bateram nas laterais da palma) e um carinho veio em seguida, diminuindo um tanto de minha fúria e até me fazendo esquecer que chupava o dedo, colocando a cabeça um pouco para o lado enquanto baixava uma orelha para que fosse com mais facilidade para baixo da mão e forçando para que ela não parasse, parecendo que estava me coçando com ajuda da outra, apenas uma forma de disfarçar (muito mal) que estava gostando do chamego.
Então ela se distanciava e se jogava contra a moto como se a mesma fosse um sofá ou algo assim, e não podia negar que sua imagem era imponente. Eu, jogada ao chão em posição de lótus enquanto ela tinha um maquinário raivoso abaixo de si, me olhando... Se estivesse mais escuro ou se a encontrasse em uma situação diferente, certamente teria medo. Minha reação fora extremamente boba, pois apenas a fiquei fitando por um momento.
Lyora era uma espécie de enigma. Ela era bem sincera com o que queria e agia, não parecia encenado, mas em alguns momentos, era também difícil de lê-la. Estava apenas relaxando ou queria dizer algo mais? Não a conhecia direito, isso é um ponto a ser acrescentado e descontado de minha confusão, o que me fazia delirar um pouco se a princesa era assim, realmente tão simples e verdadeira ou guardava algo mais fundo? Havia momentos (que eu preferia ignorar) em que ela parecia até simplória, como os apelidos e forma inocente de falar, e em outros, ela era tão... "Intrusiva" não seria a palavra, mas impositiva e dominadora. Suas palavras eram como uma ordem, não advinda de uma tirana, mas de alguém que estava extremamente segura do que dizia e era fácil acreditar nisso. A maneira com que escorraçou os "estudos orcs", não havia maldade e sim, uma constatação de fatos que era difícil rebater. E por isso eu me mantinha quieta, a observando. Não achava o que falar, como protestar. Retirei o dedo da boca e lambi os lábios para retirar qualquer excesso de saliva que pode ter escorrido junto e não me senti sufocada, mas inábil de conseguir retrucar contra ela.
Me estiquei como um gato faz ao acordar, mas ainda sentada, e peguei o mapa em minha frente. Bati um pouco da terra em meu peito e logo em seguida, do papel rasgado em minha frente. Tentei erguê-lo, mas ainda sentia uma fisgada pela bicada de Ban'nin e me virei para vê-lo. A corvo estava tão obcecado pelo olhar da princesa quanto eu, pois estava quieto a encarando, mas percebi uma coisa nele que era quase que algo nosso: penas em seu bico.
Ele era extremamente estressado e retirar suas penas, em um ato certamente de automutilação, era algo que ele fazia para se acalmar e ele sabia que poderia me ferir, pois eu me regenerava mais rápido que qualquer pessoa que já houvera conhecido, mas ele, poderia trazer problemas para a missão se fizesse isso.
O corvo era surdo, então repreendê-lo não seria de grande ajuda, mas em um movimento rápido, peguei-o pelo bico e dessa vez, ele não teve reação e consegui retirar as penas duras com um sorriso no rosto de ter conseguido fazer isso, mas eu apenas estava me enganando, pois ele prestou atenção em mim. Seu olho negro e brilhoso me fitou e senti como se ele fosse muito maior do que normalmente era e num movimento brusco, ele se desvencilhou e se jogou para trás, mas era desengonçado e em meio ar, bateu forte as asas e se lançou para frente, batendo sua cabeça contra meu queixo, que pela posição, era como se tivesse recebido um soco ascendente que não pude defender ou reagir, apenas bater os dentes e fazer força para não desmaiar, pois mesmo que ele não fosse exatamente pesado, era resistente.
Tentei pegá-lo no que ele voou, nem que fosse pelos pés, mas nunca o tinha visto tão rápido para sair dali. Cuspi um pouco de saliva para ver se havia sangue e por sorte, não havia cortado a gengiva com meus próprios dentes afiados. Me levantei e olhei para o céu, onde o corvo circundava, preparando-se para uma segunda investida.
- Ban'nin! Pare! - Não adiantava falar, ele era surdo. No calor do momento, eu apenas reagi e gritei com ele. Quando eu assoviava, ele sentia a mudança no ar e de vez em quando, isso funcionava. Coloquei os dedos na boca e soprei, porém aconteceu algo que eu não esperava. Talvez o corte fosse mais forte ou profundo do que eu imaginava, mas quando fiz o movimento, um choque me subiu pelo braço e não consegui fazer o som agudo, apenas um gemido de dor e o corvo voltou para mim, em alta velocidade e me acertando na parte de trás da cabeça, sensação essa que era como se uma casa desmoronasse sobre mim.
Em outra ocasião, poderia até ser hilário, mas diante de Lyora e Taliesin, meu corpo caindo como uma boneca de pano em direção ao chão, meu último pensamento antes de desacordar fora "o que eles vão pensar sobre mim?" ia começar a filosofar sobre não ter controle de meu próprio companheiro alado, mas fui com força sentir a terra bater no rosto.
Ban'nin estava agitado, incomodado e seu som, normalmente quase mudo ou esganiçado, agora era quase um grito de desespero, atormentado por algo invisível. O pequenino também estava sobre o solo, se debatendo e batendo a própria cabeça contra grama, arrastando o bico, alguma coisa estava se apossando dele, uma loucura, uma influência muito conhecida pela Dead Garden.
Ao mesmo tempo, enquanto estava livre da consciência, queria muito que Rihla viesse ao meu encontro e me trouxesse um pouco de descanso, mas para meu puro infortúnio, Apatti sussurrava em meio à escuridão.
Eu estava deitada, imóvel e não conseguia enxergar nada, completamente cega pelo breu que me cercava. Meus batimentos estavam acelerados e eu ouvia a deusa rosnando a uma distância que parecia bem longínqua, mas sua presença era próxima, confundindo meus sentidos. Não conseguia raciocinar também, qualquer pensamento que se desenvolvia era cortado como se estivesse se esfarelando e nunca se concluíam. Dado momento, disse que a calma do escuro não era do feitio da deusa, mas falei para mim, não sabendo se aquilo era um pensamento ou fala mesmo. Um meteoro, grande e rodeado de fogo como se uma segundo Erwood caísse sobre mim, vinha com a mesma velocidade que Ban'nin fazia sua investida e minha única reação fora o de gritar.
No que me dei conta, eu ainda estava deitada e quieta, mas com um aperto insuportável no peito, doloroso e que me tirava o fôlego. Ouvi vozes e tentei olhar ao redor, mas sem mover a cabeça, eu só podia ouvir atrás de mim, meus irmão sendo afogados, meu pai espancado e eu, minha própria voz, gemendo e gritando das torturas que eram revividas durante o período em que perdi minha família, mas agora, incapaz de ver ou fazer qualquer coisa, eu só podia imaginar o que estava acontecendo, mesmo que eu soubesse, mas não via, então podia ser tudo uma encenação para me assustar, ou ser coisas muito piores do que eu vivenciei. A dúvida era somada com a minha paranoia e em dado momento, cheguei a suplicar que não me vissem ali, deitada e tão próxima dos horrores e atrocidades, que me ignorassem como se fosse mais um nekomimi morto como os tantos outros que estavam ao redor do lugar que algum dia chamei de casa. Gritei por Apatti, ela que sempre apagou minhas dores com tanta violência da natureza, mas a deusa parecia tão ausente quanto um espectador hipnotizado pelo espetáculo em sua frente, só percebendo que poderia fazer algo após o ato se concluir. Passaria mais um ano assim? Sujeita a todos os sons, as visitas inesperadas e indesejadas quando eu menos esperava? Resolvi morder minha língua, pois sufocar em meu próprio sangue parecia muito mais viável do que passar por aquilo de novo.
Mas eu não conseguia. Era impossível me mover. Meus olhos estavam abertos? Eu estava piscando? Porque estou passando por isso?
Enquanto desmaiada, meu corpo tremia na medida que os batimentos cardíacos ficavam mais rápidos, minha respiração descompassada e meus músculos completamente rijos. Se antes não havia sangue em minha boca, agora a pressão que era feita fazia as gengivas sangrarem e logo eram desfeitas as amarras e voltava à consciência, erguendo as mãos enfaixadas até meu rosto e tentando tirar algo da boca, assim como arranhando meus olhos, numa tentativa irracional de retirar o que me calava e vendava, mesmo não mais sob o feitiço do pesadelo. Por sorte, na forma humanoide, eu não tinha unhas compridas, então não me machuquei muito, mas os cintos que ficavam no peito estavam me pressionando e os puxei com força, tamanha essa que o couro estalou e me joguei para o lado, pois em nenhum momento eu estava respirando e agora, comecei a cavar o chão sem motivo algum e quando tudo que eu via era simplesmente o solo e não mais as faces, o céu, a vegetação e somente a terra, me permiti respirar, abrindo a boca e soltando um grito surdo, livre de sons, mas forte o suficiente para que minha face ficasse vermelha.
Fiquei um momento assim, respirando pesado, ouvindo as vozes de meus irmãos, de meus genitores, todos próximos de mim, meros fantasmas amargurados que não desistiam e tinham somente a mim para continuar suas vidas interrompidas. Me joguei mais uma vez para o lado e soltei os cintos, mas repousei a palma sobre o peito, arfando com a boca aberta enquanto nem ao menos conseguia chorar, apenas sentir como se ainda não tivesse voltado para a realidade. As vozes iam sumindo, conseguia voltar ao que normalmente era e regular a respiração, deitada na grama e olhando o céu enquanto contornava com os olhos cada detalhe de uma nuvem.
Olhei ao redor e me sentei, procurando Ban'nin que conseguira colapsar e fugir dessa realidade para a inconsciência. Mantive o olhar sério, incomodada com tudo que houvera ocorrido "no outro plano" e desejando que ele tivesse um momento de descanso enquanto não estivesse aqui.
- Ly... Taliesin... - Ia falar com a Dead Garden, mas preferi focar um momento em meu convidado enquanto soltava a mão do peito e me encolhia, recolhendo a perna esquerda e massageando as musculatura que relaxava após estar tão tensa sem necessidade. - Peço desculpas para vocês... Eu deveria ser melhor que isso, mas o efeito dos achitya é muito forte sobre mim, por isso eu ainda não subi de cargo. - Queria rir, mas apenas dei um olhar para a grama, esperando um momento para desanuviar a mente e escolher as palavras, voltando o olhar sério para o "Senhor Raposo". - Ban'nin é ranzinza, mas nunca faria uma investida de ataque como essa, no máximo uma bicada ou mordida de protesto ao invadir seu espaço... Talvez estejamos próximos de um achitya, sua presença é mais forte em criaturas como ele. Pensando agora, talvez aquele eletrossauro tenha sido invocado pela insanidade exalada pela criatura... - Mordia a língua visualmente, sem força, apenas mostrando para ambos e dando um sorriso breve. - Eu falo demais... O que quero dizer, é que não será um passeio simples e não posso garantir sua segurança física ou psicológica. Assim que Ban'nin acordar, o mandarei embora e iremos lidar com essa ameaça antes que mais dessas coisas aconteçam.
Suspirei, troquei de perna e olhei para Lyora.
- Princesa... Eu... - Por algum motivo, me sentia humilhada diante da majestade. Era por causa do cargo que ela dizia ter? Taliesin parecia tão alheio a mim que ter tido um surto não me incomodou tanto, mas alguém que fora designada para me auxiliar e ver que eu era tão instável, isso me retirava as palavras. Tirei um momento para pensar e não conseguia mais encará-la, descendo o olhar para seus pés e se eu não sabia o que fazer, fui até Ban'nin e o peguei como um bebê, encarando-o como a covarde que eu era, evitando o olhar solar de Lyora. - Eu preciso documentar isso e enviar para que um Nightwalker venha e termine o nosso serviço. Vocês... Se vocês quiserem ir atrás das relíquias nas cavernas que Ban'nin anunciou, eu darei conta daqui em diante. - Com a mão livre, fazia um movimento brusco para o lado e tentava sorrir, mas dava um passo para frente e mantinha a seriedade, fortalecendo a voz (não ao ponto de chegar a gritar), mas sendo impositiva enquanto as bochechas ficavam vermelhas, afinal, não era de meu feitio ter companhia e me senti muito melhor lidando com essas coisas sozinha. - Essa é a minha missão! Se eu souber que ambos estão em segurança, eu posso garantir a minha! Esse monstro não poderá me afetar se eu não puder afetar vocês! Eu sou um perigo se estiverem comigo! - Meus joelhos fraquejaram e caí com ambos ao chão, temente que ambos se machucassem por conta minha, agora que via e não apenas isso, demonstrava para Taliesin, os terrores que é lidar com um achitya. A voz forte, mas embotada retornava enquanto escondia os olhos sob a franja branca. - No fim da missão, eu irei atrás de você mais uma vez, Taliesin. E Lyora, talvez a Dead Garden faça nossos caminhos se entrelaçarem novamente, mas por favor... Me garantam que vocês irão ficar bem...
Claro que parte do que eu dizia sobre querer me manter só não era apenas por não saber como lidar com os outros e sentir vergonha de mim mesma diante deles, mas também por sempre temer que Apatti viesse dar o ar de sua graça e jogar um maremoto ou o que quer que ela estivesse com desejo de fazer uma desgraça naquele lugar seco que era Urco. Talvez uma avalanche? Não queria que ambos fossem tragados por isso, pois mesmo que a ruiva tivesse uma cerca familiaridade com os frutos do Chaos, ela certamente seria pega de surpresa se após lidar com um problema, um desastre natural viesse logo em seguida, aumentando o risco não só dela, mas do pobre Taliesin que estava nessa por mera conveniência e egoísmo meu.
Eu estava tão focada em falar e não chorar, envergonhada de ter revivido todos meus traumas na frente de ambos (mesmo que eles não soubessem o que vi enquanto estava apagada, mas o sentimento era que, de alguma forma, eles sabiam), que nem ao menos percebi que Ban'nin houvera retornado para nossa realidade.
Em um gesto inesperadamente sensível da parte dele, ele puxou o couro que me escondia os seios e demorei um pouco para perceber isso, mas no que senti o bico afiado tocando na pele macia, olhei-o (ainda escondida pela franja) e o joguei ao alto. Movimento brusco e inesperado, mas que ele usou para pairar no ar, grasnar sem som algum e tomar distância no céu, compreendendo o que eu queria sem ter que dizer ou ele estava acordado o tempo todo e leu as palavras que saíam de meus lábios, não importava.
Calamity Harbinger- Créditos : 0
Mensagens : 24
Data de inscrição : 13/06/2024
Página 3 de 3 • 1, 2, 3
Tópicos semelhantes
» [Auto Narrada - Narrada] É a Fada do Dente?
» [Auto Narrada/Narrada/+16] A Dramatic Irony
» [Auto-Narrada / Narrada /+18] Surface Pressure
» [Auto Narrada +18] Estudando o Inimigo
» [Auto Narrada/+18] Lake of Fire
» [Auto Narrada/Narrada/+16] A Dramatic Irony
» [Auto-Narrada / Narrada /+18] Surface Pressure
» [Auto Narrada +18] Estudando o Inimigo
» [Auto Narrada/+18] Lake of Fire
Dark Dungeon World :: Mundo :: Continentes :: Continente de Greenleaf :: Urco
Página 3 de 3
Permissões neste sub-fórum
Não podes responder a tópicos