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Turns out being fake can be your saving grace.
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— Era só o que me faltava! Além de cretino, também é louco!? Não podia tirar uma combinação pior. — bravejou, fechando os olhos enquanto levava sua mão direita a testa e massageava a região com a ponta dos dedos, em um claro sinal de estresse — O que eu sou, deixei de ser ou ainda vou ser, não é algo que eu tenha obrigação de lhe dizer! Não faço ideia do que você quer comigo, mas essa conversa terminou aqui! —

Foi o que ela disse, reunindo seus pertences de volta para si e dirigindo-se rumo a saída do local. Entretanto, mais uma vez, o vampiro se demonstrava ardiloso e persistente. O movimento de corpo que este fazia ao puxá-la, colocando seu corpo rente ao dela e seus rostos frente-a-frente novamente, deixava a autômata irritada, mas essa emoção perdia lugar ao ligeiro embaraço que sentia por estarem tão próximos e atraindo olhares alheios para aquela situação.

— Acha mesmo que um pedido de desculpas é suficiente? Poupe-me de suas asneiras! Não estou a fim de sujar minhas mãos com um traste parasita sanguessuga. — falava com desdém evidente, voltando a trocar olhares com o rapaz, contrastando as emoções que cada um sentia respectivamente. Ela poderia empurrá-lo para longe, chutá-lo, despedaçá-lo e até nocauteá-lo com mais uma cabeçada, mas aquele indivíduo ainda possuía um fator que a impedia de prosseguir com suas ameaças: o mistério. O desconhecido trazia uma atmosfera que prendia a curiosidade inata da mente estudiosa, a vontade de entender as intenções por trás de suas ações ou mesmo descobrir quem era tal ser fazia ela querer continuar ouvindo e analisar o indivíduo de perto.

— Você é mais perceptível do que imaginei. Agora, se isso é bom ou ruim, seria muito generoso da minha parte lhe dizer. — falava convencida, antes de revelar seu lado arrogante ao escutar a proposta de um jogo — Um jogo onde o perdedor submete-se às vontades do vencedor? Você realmente não tem amor pela sua vida. Irei gostar de ver sua reação ao perder. — debochava do vampiro, entrando na sua brincadeira, passando a guia-los pelo salão com movimentos leves e harmoniosos, simulando uma pequena dança de fato até voltarem à mesa em que estavam juntos.

Aceitando jogar com o vampiro, Opal escutava ele explicar que jogariam um baralho de cartas simples. Este possuiria 51 unidades, o primeiro tiraria uma carta e o segundo teria que adivinhar se a próxima seria maior ou menor, caso acertasse prosseguiria e caso errasse trocariam os papeis, e quem acertasse mais adivinhações venceria o jogo. Para felicidade da autômata, talvez um sinal do que aconteceria, ela já começava ganhando o par ou ímpar contra o rapaz, dando-lhe a vantagem de começar adivinhando.

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Sentados à mesa Opal não se incomodava com a persistente aproximação do vampiro, nesse ponto, ela já aturava um pouco o comportamento errático do mesmo. Assistia o embaralhar das cartas e os truques de mão que o seu "anfiltrião" fazia, mantendo seu olhar cético e demonstrando nenhum interesse pelo showzinho dele, somente importando-se com a jogatina que viria a seguir.

— A menos que se trate da vida de outra pessoa ou alguma crença pessoal, essa sua afirmação sequer faz sentido. — respondia de forma espontânea, arqueando uma sobrancelha com curiosidade pelo rapaz — Como sua própria vida poderia valer menos que outras coisas? Caso você morra, não terá ninguém como você para prestar os serviços com a mesma eficiência que faria. — continuava encarando o vampiro pelo canto dos olhos, antes de voltar sua atenção ao jogo de cartas.

No começo, embora tivesse a vantagem do início, os pontos tinham se dirigido ao vampiro em uma ligeira margem de ganho, deixando a autômata nervosa com o pensamento do que poderia lhe acontecer se perdesse essa aposta. O rapaz, por sua vez, mostrava-se alheio aos resultados que saíam do baralho, parecendo mais interessado no diálogo com a própria jovem, o que atiçava novamente a curiosidade desta sobre quais eram as intenções dele desde o começo.

— Melhor que considere traste um elogio vindo de mim, pois minha opinião sobre você é disso para pior. — sua entonação era rancorosa, o amargor de suas palavras poderia ser sentido até no paladar  — Você pode até ser um rostinho bonito, mas vestido como um sem-teto e manchado de sangue da cabeça aos pés, não passa de mais um fraco imundo que se esconde nessa podridão de fim do mundo. — ela se recordava dos adjetivos que ele tinha usado em suas descrições anteriores, e parecia se divertir em usá-las contra o mesmo nessa oportunidade.

Conforme a intuição divina da autômata, o sinal do começo se provava verídico, em pouco tempo entre altos e baixos durante os saques das artas, ela disparava na frente da pontuação e garantia sua vitória com muita folga. Um sorriso fechado surgia gradativamente, de orelha-a-orelha, com seus olhos expressando uma combinação de satisfação e perversidade enquanto girava seu rosto lentamente na direção do outro.

— Não tente me enrolar. Eu lembro muito bem, você disse que faria qualquer coisa sob minha vontade caso eu ganhasse, e como venci, você terá de realizar um pedido meu. —

Testemunhando o resultado final do baralho, assim como da jogatina de ambos, a mulher se deleitava com as expressões que o outro fazia, curtindo ao máximo esse momento em que podia retribuir todos os insultos que havia recebido no começo daquela noite. Durante esse tempo, finalmente, o garçom trazia a garrafa de vinho branco e a taça solicitadas; a princípio ela ficou indignada pela demora, mas depois teve a ideia de usar um de seus fios para pegar mais uma taça nos arredores e preencher as duas com o conteúdo da garrafa.

— Você é muito estranho. — soltava uma leve risada presa, seguindo — Mas é curioso, intrigante talvez? Não são todas as pessoas que possuem essa postura atenciosa e eloquência com as palavras. Você acabou de apostar tudo, e ainda diz ser pouco valor. — ela pegava uma das taças e dava um pequeno gole, experimentando a qualidade da bebida, sem tirar seus olhos multicor dos intensos dourados do vampiro — Pergunto-me, qual deve ser o seu verdadeiro nome? Quais suas reais intenções comigo? E o que faz estar aqui quando poderia estar em um local melhor? —

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"Rhãnshi? Que nome peculiar, é a primeira vez que ouço, qual a origem dele? Tem algum significado?"

Os pensamentos intrusivos da mente curiosa acabavam surgindo aos montes, muito mais do que a própria autômata gostaria de admitir, entretanto, não poderia evitar de se interessar pelo mistério que girava entorno do vampiro até esse instante, ela sabia que tinha de aproveitar o breve momento de "trégua" do rapaz para conseguir mais informações sobre o mesmo, antes que ele voltasse a insultá-la com razão dessa vez. Todavia, mais uma vez, Rhãnshi aproximava seu rosto com o de Opal e essa instintivamente recuou, quase caindo da cadeira em que sentava.

— Mentiroso! Já percebeu como suas ações não correspondem com suas palavras!? — falou novamente irritada, após escutar a resposta que ele dava a sua pergunta anterior, cruzando os braços e desviando o olhar — Sinceramente, bastava perguntar desde o começo. Duvido que você seja do tipo tímido, mas, entendo que conversar com uma mulher bonita nunca é fácil. —

Um sorriso convencido transparecia acompanhado de suas palavras, antes de se transformar numa gargalhada audaciosa. Depois de tudo que passou e ouviu essa noite, ela precisava massagear o próprio ego de alguma maneira. No entanto, apenas isso não era suficiente para Opal, a vitória sobre Rhãnshi no próprio jogo dele seria apenas o começo, ela sentia que precisava fazer o vampiro se arrepender de cada insulto e não deixaria de pensar em alguma forma de vingança, por mais mesquinha que pudesse ser no momento atual.

— Ahahah... Minha deusa dos céus, ainda bem que eu não sou você. — dizia fingindo limpar uma lágrima após tanto rir, percebendo agora o estado do vampiro depois que esse ingeriu a bebida da taça — Sim, presumo que eu não saiba corretamente o que esse "contrato" significa para vocês em Darkaria. Até então parecia certo dizer que um faria o que outro quisesse sem pestanejar. — disse enfatizando com aspas imaginárias, voltando a sua posição original na cadeira em sequência.

Pensativa, ela se debruçava sobre a mesa e apoiava seus cotovelos nela, com uma de suas mãos esfregando o queixo como se estivesse a refletir o assunto. Na verdade, ela tentava se lembrar das palavras anteriores do rapaz sobre o tal contrato, que outrora tinha passado desentendida para si, mas agora começava a raciocinar o significado que transmitia. Enfim, conseguia elaborar uma teoria sobre o que Rhãnshi pretendia.

— Um contrato entre... duas almas? Isso é no sentido figurado, certo? — ela perguntou um tanto receosa, percebendo que talvez houvesse apostado muito caro por simples orgulho e que tivera muita sorte de ter vencido — Ainda assim, por que eu iria quer forçar um convívio entre nós dois? Essa tortura eu passo, obrigada! — ironizou em sua resposta, antes de suspirar profundamente e ceder a dúvida — Então... você pode me explicar o que é esse contrato e seus termos em detalhes, por gentileza? —

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"Muito fraco. Muito lento." Pensava, observando o vampiro levantá-la como se realmente fosse uma boneca. Em contrapartida ao olhar dourado de ódio que o outro transmitia, o par de opalas arco-íris refletiam seu brilho com a mesma nitidez de uma lâmina fria. Opal entendia que havia acionado um gatilho em Rhãnshi, reconhecendo aquele sentimento de ódio por experiência própria, assim decidiu não reagir quando o mesmo investiu contra a mesma. Além disso, graças aquela cena toda, ela descobria as reais capacidades físicas do rapaz que, comparada as dela, eram muito inferiores para ser uma verdadeira ameaça a sua vida. E o mesmo sequer tinha noção do perigo que corria devido as suas próprias ações...

Depois de alguns minutos em silêncio, esperando que ele se recuperasse do estresse, a autômata suspirou com a provocação que esse fazia, mas conteve pela empatia que ainda sentia. — Opal Quartz. Meu nome é Opal Quartz. — revelava sem muito ânimo para a melancolia do vampiro. Pouco se importava com a agressividade que esse estava demonstrando, sentia apenas curiosidade em continuar descobrindo mais sobre ele, o que ironicamente contrastava os papeis invertidos que ambos desempenhavam minutos atrás. Porém...

— Porra! Qual o seu problema?! Enlouqueceu mais uma vez!? — gritou, puta da vida, enquanto era arrastada pelo vampiro.

Novamente, Rhãnshi voltava ao seu comportamento errático, de forma repentina, levantando-se da mesa com uma nova garrafa em uma mão e puxando Opal, que era pega desprevenida, com a outra até o segundo andar do estabelecimento, onde se revelava possuir quartos e adentravam naquele que parecia mais luxuoso em questão. Opal se permitiu analisar o cômodo, ainda que tivesse desconfiança, vendo que Rhãnshi os trancava ali dentro e iniciava outro de seus monólogos gigantes... até ele conseguir, por simples coincidência do acaso, acionar o gatilho da outra durante a explicação, o que fazia toda sua simpatia pelo mesmo morrer depois disso.

— Primeiro, NUNCA mais repita essa palavra. Estamos quites agora. — disse enfatizando, irritada, sabendo que o mesmo ia entender do que se falava — E segundo, eu não quero nada relacionado a essa merda! Odiando você ou não, a sua alma é livre e nunca iria aceitar o contrário! Não tenho nenhuma pretensão em obrigá-lo para algo "desumano"! Meus pedidos são mais... justos. — dizia alheia ao sentido que deixava transparecer, pois, agora que estavam sozinhos em um quarto, outras ideias para se vingar do rapaz apareciam em sua mente. Nesse ponto, com ou sem a genialidade e intuição divina que possuía, ficava um pouco sugestivo para a autômata qual era a intenção do vampiro, o que inflamava sua arrogância no processo.

— Acredito que você não esteja sabendo pedir o que deseja corretamente. Vamos, desembuche; ajoelhe-se e suplique, assim talvez eu seja um pouco mais branda no que fazer com você. —

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Gradativamente, a cada palavra que ouvia sair da boca de Rhãnshi, o semblante de Opal ia perdendo seu brilho. O sorriso de outrora murchava dando lugar ao vazio, os olhos opalas paravam de emitir seu reflexo arco-íris e revelavam uma estranha coloração fosca de púrpura, e o sentimento de arrogância desaparecia como se nunca existisse desde o começo. Ela permanecia inerte e calada no lugar que estava, vendo o outro se aproximar enquanto continuava seu monólogo, o corpo estremecia brevemente ao escutar a palavra "escravo" outra vez, mas aparentava refletir sobre a história que lhe era contada.

". . ."

Da mesma forma, o corpo não reagiu quando foi empurrado em direção a cama, tampouco nas ações seguintes do outro. No movimento do vampiro para molestar o pescoço da autômata, ele podia notar a falta de emoção e resistência que ela possuía, lembrando de fato um cadáver já sem vida, com uma expressão indecifrável predominando em sua face. Essa descrição ganharia mais credibilidade quando o mesmo a beijasse: gelada, não como o próprio vampiro, e sim, o frio característico do metal.

". . .  . . ."

Apesar da aparência e textura lembrarem pele humana, como tinha observando anteriormente, Rhãnshi não conseguiria provocar nenhum chupão; pois, anatomicamente, não existiam vasos sanguíneos para serem estourados, era impossível criar um hematoma naquele corpo. O silêncio e inação de Opal continuavam o acompanhando em seus próximos passos. As emoções dela estavam nubladas enquanto o rapaz destruía sua peça de roupa e somente um pequeno gemido, inconsciente, escapou de seus lábios quando sentiu um dos seios ser abocanhado, com a marca de presas sendo a única coisa que realmente ficava na pele.

". . .  . . .  . . ."

Naquele ponto, a falta de uma retribuição intensa da autômata poderia ser estranha ao vampiro. Mesmo naquela posição constrangedora e degradante, ainda que ouvisse as palavras insultantes do rapaz, ela não oferecia qualquer reação até o momento. Podia supor que conseguia quebrar a psique racional dela. Quando Rhãnshi voltava para buscar sua garrafa, entretanto...

— Submeta-se! —

Um estalo doentio se fez ressoar, o som da carne frágil sendo entrelaçada e traçada de forma violenta e repentina, com fios enroscados ao seu pescoço, Rhãnshi se veria pressionado na garganta enquanto seria puxado para o alto, ficando a poucos centímetros acima do chão, sendo pendurado no teto com a visão perturbadora de si mesmo estrangulado. A velocidade desse movimento tinha sido muito além do que ele podia acompanhar, seus reflexos eram pífios comparado a destreza de uma única mão da mulher, e sua capacidade física da qual parecia tão confiante era superada pela força daqueles fios que o sufocavam.

— Eu te avisei... para nunca mais repetir aquela palavra. Sua alma é desprezível para mim. —

A voz que entoava da mulher ganhava vida novamente, contudo, os sentimentos que essa transbordava iam além de raiva ou rancor. Uma emoção que o homem também sentira àquela noite, entretanto, o exalado pela outra era mais profundo e latente, como se reencarnasse a divindade cultuada e louvada nas terras de Darkaria. Ódio. Ela se levantava da cama, demonstrando um amontoado de fios entrelaçados em seus dedos, antes de rapidamente se costurarem entre si e produzirem um novo macacão do mesmo que tinha sido rasgado, e pegando seu shorts começou a se vestir por completa, de frente ao rapaz.

— Meu cachorrinho, é? Saciada minha curiosidade, uma vez até passa, mas não haverá uma segunda... Ponha-se no seu lugar, vira-lata. —

Seus olhos brilhavam em uma coloração vibrante de carmesim-púrpura, encarando o rapaz com uma frieza provocante de aflição. Ao gesticular de um dedo para frente o fio enroscado no pescoço do rapaz descia do teto, permitindo que esse ficasse de pé e não mais pendurado no ar, consequentemente diminuindo o aperto da região, mas ainda o prendendo no lugar. Mais dedos eram gesticulados e mais fios saíam da mão autômata, com tamanha destreza e fluidez que assimilava um teatro de marionetes, cada linha parecia ganhar vida própria e se anexava ao corpo do vampiro de forma que entrelaçava seus membros; os braços eram fortemente amarrados juntos às costas, com as linhas marcando seu peitoral em vários cruzados diagonais, as pernas eram abertas e também entrelaçadas uma na outra, cruzando os fios nas regiões de suas coxas e canelas enquanto os joelhos permaneciam livres, e em seu pescoço os fios ganhavam a forma de uma coleira improvisada, que ao ser puxada fazia o homem ter seu rosto próximo da mulher mais uma vez, assim sendo novamente estrangulado.

— Eu quero ouvir você pedir. Meu dócil animal de estimação. —

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