[OFFSCREEN] Achiles

Valkie caminhava pelas ruas de Foz Dourada enquanto procurava por um bar do qual pudesse comemorar o seu aniversário sem nenhum problema, a felicidade que tinha em seu semblante era tanta que seus passos eram mais largos e seus movimentos mais floridos, em outras palavras, andava como uma criança feliz como se tivesse acabado de ganhar seu primeiro brinquedo.

Os Avians, uma raça muito respeitada por todas as outras pelo seu histórico brutal e suas invencibilidade em quaisquer guerra que tenham participado mostrava uma certa imponência, porém, o Noctua não possui uma presença tão forte assim, muitas vezes sequer percebem que ele esteve por ali. O motivo disso? Bom, pode-se dizer vários, muitas vezes o vento que trás com ele costuma abafar o som de seus passos ou a maneira do qual anda é mais silenciosa do que o costume. Isso é estranho? Com toda certeza, como alguém de dois metros e meio consegue se manter dessa forma? Um mistério.

Nos dias de seus aniversários, a criatura passeriforme sempre foi alguém de festejar, em sua terra natal havia um costume antigo de que eles tinham que mergulhar de um alto parapeito e apenas planar quando estivesse mais próximo do solo, quem conseguisse alcançar o nível mais próximo do chão era o vencedor dessa gincana e quanto aqueles que caiam com força? Bom, os ossos de pouco peso e suas penas resistentes sempre lhe deram tal liberdade.

Depois dessa gincana, eles iam até um local reunidos e bebiam [sim, até mesmo as crianças, porém em menor quantidade] e contavam histórias, piadas e o que mais tivessem em mente como uma grande comemoração. Por isso, Valkie sempre teve boas recordações de suas memórias, principalmente daquelas onde uma briga saiu e ele foi o vencedor. Aaah… a boa e velha batalha, aquilo era um sentimento que agradava todos os sentidos da coruja que mantinha um bom humor naquele dia em especial.

Ao encontrar o bar do qual tanto procurava, Valkie adentrava o estabelecimento cheio e percebia o quanto nada daquilo se parecia com as suas lembranças. Eram seres de raças variadas tomando bebidas juntos e aquela diversidade era até mesmo um tanto estranha. Os gritos eram altos e as chamas das velas se mexiam toda vez que alguém batia a caneca de madeira sobre a mesa.

Os móveis eram todos bem-acabados, as mesas rangiam com o peso dos braços de alguns e os bancos estavam sempre balangando de um lado para o outro. A música era a melhor coisa dali, de longe, os bardos tocavam em um bom ritmo festejante e era isso que segurava o Noctua antes que ele saísse para procurar algum que lhe melhor agradasse.

Foi um humano que chamou a sua atenção, o marujo mostrava-se empolgado ao ver um pássaro ali e então chamou para dividir a mesa com mais alguns companheiros. As bebidas eram de péssima qualidade, o que para a coruja não era um problema já que seu paladar era nulo para os gostos e o que importava mesmo para ele era o efeito da bebida.

A conversa ia fluindo, coisas eram ditas, histórias eram contadas e piadas tornavam a mesa um verdadeiro caos de tanta gargalhadas que eles davam, a coisa estava tão boa por ali que poderia continuar pela noite inteira e isso não incomodaria nenhum pouco a criatura passeriforme.

Aquilo trazia lembranças boas para o pássaro, sua risada era ótima e o mesmo tinha acontecido no seu aniversário de quinze anos ou alguma idade tão parecida quanto, o importante era que ele ainda era um Adolescente e juvenil.

Valkie encantava-se com a beleza de uma bela moça, sua descendência era derivada de um pássaro chamado gaio-azul, suas penas azuis brilhavam no luar e se mostravam brilhantes e belas, foi a primeira mulher do qual o Noctua se sentiu atraído e possivelmente o seu primeiro amor.

A coruja lançava cantadas e a fazia rir, a música dos Avians era boa e isso complementava todo aquele clima que com muito esforço, o macho era capaz de encantar a fêmea. Seus olhos mostravam que suas intenções eram claras de ganhar o seu primeiro beijo, a garota, tinha essa mesma sensação.

Foi quando os dois se distanciaram de sua família e abaixo de uma árvore alta que isso finalmente poderia acontecer, sobre o brilho de uma lua cheia, foi quando os dois se aproximaram e deram os seus primeiros beijinhos, uma história comovente e que sempre que o pássaro relembrava trazia boas lembranças.

Bom, isso seria ótimo se dias depois ele não tivesse seu coração quebrado quando esta mesma moça não tivesse partido o coração de nosso pequeno protagonista após mostrar-se muito mais interessada em um zé ninguém que jamais lhe conquistou com tanto esforço. Algo do qual Valkie resolveu na briga, mas não foi a melhor decisão para tentar reconquistar o seu primeiro amor.

Voltando para a realidade e as gargalhadas, Valkie já estava mais bêbado do que gostaria e claramente sua visão já estava bem mais turva do que esperava ficar. A bebida finalmente tinha se tornado um problema a aquela altura do campeonato e fazia com que tivesse que regurgitar um pouco dela para voltar a se sentir bem.

Ah, e daí você pensa. Já que o pássaro regurgitou e agora deve ir para casa ou algo que chame de lar. Mas daí você se engana. O Noctua, como todo bom guerreiro, nunca para apenas na primeira batalha e assim foi adiante em sua noite de bebedeira tornando-se cada vez mais chato e mais irritado, era claro de que os outros clientes já se incomodavam com os movimentos exacerbados do pássaro que trombava em mesas e pessoas sem querer.

Provavelmente foi dali que surgiu a grande oportunidade e ideia de capturarem um pássaro de dois metros e meio e já que eles estavam juntos por horas, ninguém desconfiaria de que tinham drogado a sua bebida para conseguirem prendê-lo e então levá-lo para algum escravista e forçá-lo a fazer trabalhos.

O que eles tinham esquecido era de um detalhe fundamental a respeito da história dos Avians e que eles nunca eram levados as batalhas e sim as batalhas viam até ele. Para a sorte daqueles seres, Valkie já estava tão bêbado que não percebeu sua visão ficando mais turva do que já estava e suas pernas mais fracas, foi apenas quando sua cabeça ficou tão leve quanto uma pena que percebeu que algo tinha errado e então seus olhos acompanharam o caminho do chão conforme seu corpo caia e ele era levado até a embarcação.