1. Death & Strawberry

Allen escutou atentamente, não se importava em servir como um mão de obra para serviços mais pesados e braçais, não que limpar se encaixasse nisso, mas era um trabalho usual para alguém que sequer poderia manter-se limpo. Havia conseguido algo, uma oportunidade que lhe daria a possibilidade de continuar andando sem destino, como deveria ser — Agradeço, começarei imediatamente, e se possível, gostaria de levar para viagem — sua voz cansada ecoava de maneira fraca antes de seus passos seguirem em direção ao itens necessários para uma limpeza, esfregões, vassouras, sacos de lixo e etc; o atormentado Allen apressou-se em concluir seu dever o quanto antes, mesmo que a proposta de um banho fosse tentadora, não havia tempo para tal, e na situação em que se encontrava, estar coberto por sujeira não era completamente ruim, já que o panda que acompanhava Berry não lhe localizaria tão facilmente através do cheiro.

— Sinto muito, não poderei ficar para o torneio de hoje a noite, preciso partir antes do sol se pôr... — limitou-se a dizer aquilo, ninguém precisava saber sobre a maldição que carregava, quem era ou o que zangetsu representava no meio disso tudo, tinha algo a fazer e tratou de afundar as mão na água e iniciar a faxina esfregando os assentos, seus olhos se fixaram em cada sujeira existente em seu entorno, era importante que não houvessem brechas para que fosse acusado de realizar um serviço mal feito e por consequência não ser pago, como fora devidamente acordado, todavia 'alguém' parecia mais do que disposto a atrapalhar sua empreitada.

Allen levou as duas mãos à cabeça, aquela voz gutural ecoando em sua mente lhe causava dores e desconforto, era impossível se acostumar com a sensação fúnebre que lhe era causado apenas pelo sussurrar de poucas palavras daquele ser, o garoto caiu de joelhos e sua testa encostava no solo, os indicadores tapavam os ouvidos numa tentativa inútil de evitar as provocações — CALE A BOCA, DROGA! — soltou num profundo lamento enquanto seu punho batia contra o solo — NÃO EXISTE NÓS, apenas eu e você...argh...e-eu nunca vou permitir que você tome o controle, que se materialize nesse mundo, eu serei sua prisão, nem que isso custe...tudo — com a destra acertava golpes contra sua própria cabeça, como se tentasse recolocar alguns parafusos no lugar, contudo aquilo ia além de problemas psicológicos.

Com dificuldade de manter-se em pé e escorado na parede, Allen colocou-se em pé, sua respiração pesada demonstrava o cansaço, não apenas mental, mas também físico que sofria para lidar com a criatura. Mesmo que não quisesse acreditar, Allen não conseguia simplesmente extinguir a chama da esperança que queimava em seu coração para que um dia, talvez, fosse curado, alcançado a atenção divina que lhe presentearia com a paz — Não posso deixar que algo tão terrível vague pelo mundo, é o meu dever te manter aprisionado, seremos eu e você, até o fim — comentou som um sorriso sofrido desenhado nos lábios, enquanto lembranças não tão distantes preenchiam sua mente, de dias onde perderá a batalha e o rosto de Allen dera lugar a uma mascara horripilante que se traduzia no processo de manifestação do Hollow.

Seus punhos se fecharam e se chocaram contra a construção, — ME DEIXE EM PAZ, CALE A BOCA, CALE A BOCA, CALE A BOCA — a cada palavra, um golpe o acompanhava, sua voz erguia-se cada vez mais na esperança que pudesse se sobrepor aos pensamentos desfavoráveis que tentavam criar raízes em sua alma.

— Tsc, apenas fique quieto, maldição — com um tanto de dificuldade em se concentrar, Allen retornou ao trabalho, enquanto estivesse integro fisicamente e mentalmente, não precisaria temer colocar ninguém em risco, automaticamente seu primeiro pensamento se deu na criança de mais cedo, era seu dever protegê-la de si mesmo, não poderia repetir os erros do passado, ninguém mais perderia a vida e entes queridos por sua fraqueza.