[Narrada/ Aberta/ +18] Prelúdio 1 - Terras de Moriase.

Não me recordo quanto tempo faz que havia chegado na região de Moriase, mas certamente a pouco tempo. Eu havia calcorreado até os portões e passado sem problemas, apesar de minha má fama ser algo bastante incomodo, era um fardo que carregaria para o resto de minha vida.

Sentado em um pé de macieira, já algumas horas, pensativo e com fome, aproveitei algumas maças podres do chão para revitaliza-las com o toque (Purificação). Eram tantas que poderia servir um batalhão de meros humanos. No entanto, para mi, era o suficiente para saciar a fome naquele momento. – Me sinto perdido as vezes... não sei quantos anos, décadas ou séculos levará para enfim eu conseguir um lar para mim. Ponderava comigo mesmo, pois, estava determinado a encontrar um local que pudesse chamar de “casa”. Um digno e justo, com abonança e ordem.

Escorado na arvore com os braços cruzados, os olhos simplesmente encaravam a vastidão no céu, tal qual faria um homem se sentir minúsculo e ínfimo se comparado com todas as estrelas. – Me diga Jord... Eu diria batendo um papo como se fosse algo normal com Deus da Fartura, tal qual apenas uma única vez ouvi sua voz e recebi sua ajuda. -...não temo a morte, mas temo o tempo. Por mais longa a vida e por mais destemido e convicto o espirito... o tempo é injusto e definitivo. Complementaria soltando um suspiro. – Do que adianta ter passado por todo aquele inferno, me aventurado por todo aquele caos em Mu... se não alcanço meus sonhos! Fechava os olhos por uma fração de segundo enquanto apenas ouvira o soar do vento, das folhas enquanto o olfato se deleitava com todos só cheiros que lá proporcionava.

Eu detinha uma força de vontade inabalável, mas em certos momentos a reflexão me fazia divagar por caminhos sombrios e inexplorados na mente, principalmente por contemplar o passado e ansiar o futuro.

Aquela estupenda sensação realmente reconfortava meus sentidos e corpo, quase como um sono após dias sem dormir. Era nostálgica também, parecendo como daquela vez em que Jord havia falado comigo. Apoiando as mãos nos joelhos eu me colocava de pés, mas mascar o ultimo caroço de maça.

Quando me dei conta, a cabeça virada para o sopro do vento cujo sentimento nostálgico e sereno me atrairá demasiadamente, avistei um enorme salão em mármore tão belo quanto as próprias construções élficas. ~ Uohh. Expressava a voz em tom baixo enquanto os olhos arregalados e os pés seguiram rumo a estrutura.

O cheiro era... único. Nem bom, nem ruim. Simplesmente um cheiro de... paz. Qualquer tolo pensaria que seria uma armadilha, semelhante aqueles cantos de sereias. No entanto, eu confiara em meus sentidos e em minha percepção. Algo naquilo mostrava verdade! Calmaria e abonança.

Eu me movia calmamente, enquanto era cativado por aquele lugar, por aquele sentimento e pelo convite inesperado. Ao mesmo tempo que era tranquilo, a sensação de emprazar ficará mais intensa. Quase como um sonho fora do sonho. ~ Olá? Quando meus pés tocaram o mármore, foi a primeira coisa que comentei. Estupido, provavelmente. Mesmo com mais de meio século ainda sim parecia uma criança sem entender nada. Contudo, um sábio uma vez disse: sábio é aquele que entende sua falta de conhecimento.

Logo avistei uma mesa com alimentos em fartura. Foi quando a ficha caiu, afinal. Recentemente teria clamado por Jord. No entanto, mesmo após tantas décadas sem falar com ele, aparecer assim do nada era realmente um mistério. – HUhunm! Pigarreava com a garganta, batia em minha armadura para retirar qualquer centelha de folhas e poeira e então alinhava a postura para andar mais alguns passos até a mesa. ~ Que lugar magnífico. Talvez algum dia... Eu proferia olhando em volta e começando a babar pela comida em fartura. ~...possa criar um lugar assim para mim e meu povo. Terminava de proferir tentando buscar a pessoa, Ser, criatura, divindade, que havia manifestado aquele lampejo. “Apesar de que provavelmente seja quem eu espero que seja.” Pensei por fim, expressando um sorriso por alguns segundos, mas logo tornando o rosto sério.

Era impossível não admirar a vastidão das paredes que se estendiam ao infinito, tão precisamente quanto as estrelas do céu. Por outro lado, as nuvens acopladas e mescladas davam sinfonia e equilibro de tal maneira que era difícil explicar.

A voz ecoou, ecoou como uma leve batida do martelo de um juiz, cujo poder absoluto era usado com sabedoria, dedicação e justiça. A voz do Deus era calma, porem firme. Flexível, mas volátil. Era a voz cujo poder jamais poderia comensurar; ou será que seria possível? Sinceramente, jamais houvera pensado o quão poderoso um Deus é, seja qual for ele. No fim, formigas trilham seu rumo sobre o sol cujo calor mata as de espirito fraco ou fortalece as mais tenazes.

Sempre me achei um homem grande, forte e destemido. Cuja a sombra cobria o terreno no calor da batalha. No entanto, Jord realmente me lembrava que eu era meramente um pequeno mortal. Onde meus sonhos eram simples e rasos, talvez para os Deuses é claro, diante a resplendência de seus semblantes.

Eu admirava Jord como um valoroso aliado, e um promissor inimigo. Não por desejo de tomar sua vida e seus lotes, mas sim por almejar ser tão incrível quanto ele. Afinal, é mais fácil crescer perante um vigoroso oponente do que um frágil amigo.

Havia-me virado e fintando dos pés a cabeça do Deus da Fartura. Sua presença era imponente, mas seu espirito caloroso e reconfortante. Como um campo verde sem fim, onde a grama cresce desenfreadamente e os olhos não veem seu fim.

Ouvira Jord falar, enquanto a saliva escorria no canto da boca, já que, com certeza não havia esquecido o banquete era só que... não queria ser ousado demais. Se fosse o meu “eu” de antes, certamente já haveria comido, bebido e mijado por toda parte. O continente Mu era desolado de cultura nobreza, bons modos e educação. Mas com tempo e experiencia, havia aprendido um pouco a como viver mais “adequadamente”. Ainda que soubesse que a estrada era longa.

~ Karhahahahaha. Riria sutilmente enquanto coçava a cabeça. ~ A fome é uma amante que jamais poderei me livrar, ainda que possa a conter com um pouco de força de vontade. Por outro lado, ver o sábio da Fartura é algo raro e único. Não é difícil escolher. Apesar de minha inteligência, a falta de bons modos as vezes dificultava os diálogos. Entretanto, tentava ser amigável e carismático com a figura em minha frente.

Então Jord sinalizava para sentarmos e comermos para saciar nossa fome. ~ Sim senhor. Proferia breve, logo me virando e caminhando até a enorme mesa. Quando me sentei, comecei a agarrar carnes, pães, sucos, vegetais, frutas e por aí diante. Não faria cerimonia e nem pouparia energia, comeria como um Rei; melhor! Como um Deus.

Não daria desperdício em nada, comendo até os ossos, peles. Cascas das frutas e até os caules dos vegetais. Desfrutando agraciado pela oportunidade de não só ver o Deus que idolatrava, mas como também por comer junto dele. ~ Ah proposito, senhor Jord, espero não ter lhe aborrecido pelas lamentações. São momentos raros em que não penso e apenas falo os anseios. Diria com um pouco de comida na boca, mas mostrando prazer pela comida e companhia. ~ Sou um ser simples, apesar do meu nebuloso passado. Ainda assim, me orgulho dele, me orgulho da minha força e da minha resiliência para com minhas origens. Mesmo que seja manchado por sangue, guerra e luxurias. No entanto... Faria uma pausa para terminar de mastigar e engolir o restante do alimento. ~...não sou mais aquele desde que o senhor me salvou naquele deserto infernal. Sou agradecido desde então! E sigo seus dogmas com muita dignidade e orgulho. Os olhos emitiriam uma convicção inabalável e a voz destemida, ainda na presença de alguém tão extraordinário, seria sincero e expressaria meus sentimentos.

Confesso que aquelas pequenas criaturas felpudas eram estranhas, mas carismáticas. Enquanto Jord dialogava comigo, através de sua sabedoria, ponderava suas palavras com peso. Eu já havia vivido por algum tempo, mais que a maioria, menos que outras raças. Contudo, tempo suficiente para ver o mundo em sua verdadeira essência.

O passado é a trilha de pedras que moldaram meu caminho, mas realmente não me definia. No entanto, a sua influência era outra história. Abdicar de velhos hábitos era difícil, não impossível é claro, mas realmente difícil. Ganhar novos hábitos por sua vez era mais fácil, exatamente por isso havia sido mais fácil para mim seguir as condutas de Jord; apesar de meu tenebroso passado.

Era impossível esconder o jubilo ao ouvir Jord falar que estava orgulhoso de mim, quase parecendo um pai perdido e distante, mas que ainda estava lá. Quando questionado sobre meus próximos passos, hesitei por um momento para lhe responder, mas não tardando muito. ~ O objetivo é claro, já a jornada... Comentava acariciando as pequenas criaturas. ~ Eu nunca pude chamar um lugar de lar. Afinal, nasci na tormenta da guerra. Tudo que me foi ensinado, foi como usar os punhos e tirar vidas. Meu ego foi forjado com decorrer das vitorias, manchado de sangue e luxúrias. Mas quanto mais me afundava neste abismo, mas percebia a falta de sentido. Qual era o proposito de receber migalhas? Qual era o proposito de tirar vidas? Não em entenda mal, senhor Jord... jamais hesitarei em resguardar minha integridade perante um ataque inimigo. Mas matar por simplesmente matar chegou a um ponto que não mais tinha sentido. Então eu cruzava os braços e escorava as costas na cadeira, fechando os olhos e de cabeça erguida para o alto.

Alguns segundos de silencio, proferia outra vez. ~ Eu não sou burro, como muitos acham. Eu não sou o demônio Shuntenmaru e nem mais o Terror Negro. Posso ter nascido no lado da escoria, ter sobrevivido na miséria, mas tenho honra e um código! Quando decidi largar o continente de Mu... muitos acharam tolice e que eu morreria eventualmente. Hunf. Como se fossemos imortais, todos morreram no fim. Bando de paspalhos. Proferia aborrecido. ~ Quando me dei conta que aquelas terras, desoladas e áridas terras, não eram propicias a mim. Foi quando tomei a atitude de ir embora. Então abria os olhos e fintava o vasto teto em mármore daquele lugar.

Após um suspiro, com um sorriso estampado diria. ~ Bom, em seguida o senhor já deve saber. Vaguei por lugares ainda piores, até parar naquela deserto infernal. Com sede, fome e apenas um pequeno propósito... a chance de minha morte chegar estava bem perto. Mas nem tanto quanto viver em uma rotina inútil e sem um ideal. Olhava para Jord com uma face bastante amigável. ~ Graças a sua benevolência, pude sobreviver e chegar em Elwood. Ainda não sei se aqui é minha casa, ou se há algum lugar que possa chamar de casa, mas eu irei encontrar! No entanto... não sou inocente o suficiente para saber que isso ira acontecer com meramente ambição. Preciso de dinheiro, preciso de fama, preciso desbravar todas essas terras em busca de encontrar meu lar! Preciso que meu nome ecoe em todas as cidades para que meus semelhantes, e até mesmo os de Mu, possam saber que eu estou vivo e buscando um novo lar; um digno e prospero. Terminaria de falar sem demonstrar medo ou qualquer mentira, sendo bastante sincero e devaneador.

Então me erguia da mesa, soltando vagarosamente as pequenas criaturas felpudas e com dois passos atrás eu me ajoelharia ao tempo que colocava as mãos nas pernas. ~ Então Grande Deus da Fartura, Jord! Proferia elevando um pouco o tom de voz, fintando nos olhos por uma fração de segundos. ~ Peço humildemente, com todas as minhas forças... durante as palavras direcionaria a cabeça ao chão com extrema violência. ~...ajude esse tolo, ignorante e idealista Oni a conquistar sua utopia!!! Rugiria em alto som, seguida que a cabeça aterrissava no mármore. Mostraria dedicação, respeito e destemor perante a divindade a minha frente.

Estava tão acostumado a guerrilha e selvageria que por um momento estranhei a gentil mão estendida de Jord para que eu me levantasse. Viver em Mu foi difícil, mas previsível em seu ambiente. Já em Elwood era tudo um pouco mais fácil, mas totalmente imprevisível. O que torna as coisas muito mais árduas.

Havia-me posto de pé vagarosamente enquanto fintava o Deus e ouvira suas palavras. Não havia novidade e nem mentiras em suas palavras. Contudo, como o sol raiava pela manhã, sua sinceridade e empatia colidiam fortemente em minha alma, clareando a mente e iluminando o ímpeto. Tal qual entrava em erupção.

A mão sobre o ombro era familiar e um pouco estranha, mas extremamente agradável. Se eu ainda lembrasse como era ter um pai, talvez esta fosse a sensação de aconselhamento do patriarca. De qualquer forma, aquelas poucas palavras foram suficientes para acalmar o coração e reacender o espirito aventureiro.

Jord me dizia para continuar sendo uma boa pessoa, sinceramente eu não me via assim; provavelmente os outros também não. No entanto, se comparado ao meu “eu” do passado... realmente havia crescido demasiadamente ao ponto de ser chamado de “boa” pessoa. ~ Darei meu melhor, senhor. Pontuava acenando com a cabeça enquanto um sorriso permanecera no rosto alegre pelo reconhecimento do Deus.

O tempo havia passado rápido, tão rápido que Jord começava a se despedir. ~ Hmm. É uma pena... este banquete poderia ter durado alguns dias. Coçava a cabeça deixando esboçar um sorriso animado. ~ Certo! Seja quem for, onde for, qual ajuda for... eu estarei disposto a ajudar! Colidia com os punhos extremamente obstinado. Afinal de contas, era um Deus que estava contando comigo, naturalmente não iria lhe desapontar.

Notava a mão da divindade estendida pronta para uma despedida, por um momento fiquei triste, mas naquela mesma fração de segundos meus instintos me diziam que não seria um Adeus, mas sim um “até logo”. ~ Garhahahaha! Gargalhava. ~ Eu humildemente agradeço sua atenção, senhor Jord. Espero que um dia, quando encontrar meu lar, o senhor possa vir e eu ser o anfitrião desta vez! Os olhos cintilavam em determinação e o aperto com pura dedicação.

Logo então notei uma esfera esverdeada, nunca havia visto aquilo, mas o Deus proferia que seu proposito iria se revelar no momento certo. ~ Tudo bem. Agradeço o presente. Até mais! Terminava de falar enquanto observava as criaturinhas saltitando ao redor. ~ Até mais, camaradinhas. Acenava com a mão para os Poros enquanto tentava ser amigável com eles.

Um lampejo branco forte me fez fechar os olhos, e logo notar que estava outra vez sentado ao pé da macieira. Diferente de antes, a esfera verde ainda estava em mãos. ~ Garhahahaha. Pode deixar. Respondia ao sussurro de Jord. ~ Que orbe mais peculiar. Proferia olhando um pouco mais atento a esfera, pois, além da sensação semelhante à de Jord, parecia haver algum tipo de poder ou algo único nela.

Até mesmo para minha incrível capacidade de ver o mundo em sua forma verdadeira, aquele orbe continuava sendo a mesma coisa. ~ Okay. Para onde devo ir agora? Jord falou que alguém estava precisando de mim. Hmm... Ponderava alguns instantes após colocar o orbe no bolso. “Talvez a guilda dessa região possa me ajudar.” Pensei comigo sentindo meus instintos, usando de uma lógica peculiar.

Em seguida começava a caminhar em direção a Guilda da Fronteira, cujo caminho me levaria pra dentro da cidade. Não havia pressa, por esta razão, caminharia observando ao redor até encontrar a matriz da guilda. Observaria os estabelecimentos e usaria meus sentidos apurados para me guiar até o local.