[Evento/Missão Dinamica] O Riso na Névoa

Pica...Deiro

A luta no palco do circo distorcido se intensificava, transformando-se em um confronto desesperado entre Zara e o Fantasma Risonho. A armadura pesada de Zara rangia a cada movimento, refletindo as luzes cintilantes que giravam ao redor do picadeiro. Sua lança se movia em arcos precisos, cada golpe buscando conter os ataques do Fantasma. Suas barreiras de energia brilhavam com uma luz pálida, protegendo-a das investidas constantes, mas a cada novo impacto, a luz delas se enfraquecia um pouco mais.

O Fantasma Risonho, agora revelando sua verdadeira fúria, se movia como uma sombra viva, dançando entre a escuridão e a luz com movimentos sinuosos. Sua lâmina espectral brilhava em um tom opressivo de roxo profundo, e cada golpe que desferia vinha acompanhado de um rastro de sombras, como se a própria escuridão obedecesse ao seu comando. Ele atacava com uma precisão mortal, tentando romper as defesas de Zara, desferindo estocadas e cortes de ângulos impossíveis, sempre seguidos por um sorriso cruel e zombeteiro.

Zara defendia cada investida com sua lança e suas barreiras, mas as sombras a cercavam de todos os lados. Ela girava a lança em um movimento fluido, desviando um ataque, mas uma das mãos espectrais a agarrou pelo tornozelo, puxando-a para baixo. Com um grunhido de esforço, ela esmagou a mão sombria com o cabo de sua lança e se ergueu novamente. O suor escorria pelo seu rosto, misturado com o sangue de cortes superficiais. Seus pulmões ardiam, e a respiração ficava cada vez mais difícil, mas ela não recuava.

-  Eu não vou cair, - murmurou ela para si mesma, os olhos fixos no Fantasma. Havia uma determinação férrea em sua voz, uma recusa inabalável de ceder, mesmo que seus músculos começassem a ceder ao cansaço e suas energias parecessem que não demorariam muito a se esgotar.

Pica...Deiro

O Fantasma riu, um som que reverberou pelo palco, quase sufocando a esperança de Zara. Em um movimento rápido, ele desapareceu, surgindo logo atrás dela, a lâmina fantasmagórica prestes a atravessar suas costas. Ela mal teve tempo de erguer sua barreira, que rachou sob o impacto, forçando-a a ajoelhar-se com a força do golpe. O Fantasma estava prestes a desferir o golpe final quando, de repente, um feixe de luz intensa atravessou o picadeiro, acertando-o em cheio.

Zara rolou para longe, aproveitando o momento, e viu a imagem refletida de Liftania ao longe, flutuando sobre uma superfície de espelhos. Os reflexos ao seu redor se alinhavam, canalizando a luz diretamente no baú que emanava uma energia sombria. A luz fez as sombras recuarem, afastando um pouco do poder do Fantasma.

- Boa, pequena, sussurrou Zara com um sorriso cansado, levantando-se mais uma vez. Nesse instante, a maga, que havia escapado das marionetes, surgiu ao seu lado, as mãos prontas para conjurar mais feitiços. Juntas, elas enfrentaram o Fantasma Risonho, que agora parecia menos sólido, sua forma espectral oscilando à medida que a luz de Liftania o enfraquecia.

O Fantasma ainda lutava ferozmente, suas lâminas e sombras atacando de todos os lados, mas os feitiços da maga e os golpes de lança de Zara o mantinham à distância. Mesmo assim, a força de Zara estava se esgotando. Sua respiração era um esforço, e suas barreiras de energia tremiam, quase se desfazendo. Mas seu espírito permanecia inquebrantável. Cada vez que o Fantasma a derrubava, ela se erguia novamente, os olhos queimando com uma vontade indomável de vencer.

- Você não vai nos deter, - gritou Zara, bloqueando um golpe com a lança, a lâmina de energia espectral raspando pela sua barreira. Ela sentiu a mão da maga em seu ombro, compartilhando parte de sua magia, reforçando as defesas.

Do outro lado do palco, o espadachim surgiu, cortando através das sombras com precisão, os olhos brilhando com a determinação de um guerreiro que não aceitaria a derrota. Ele chegou no momento exato em que Liftania finalmente destrancava o baú, a magia que o selava se dissipando em um turbilhão de luz.

Um clarão percorreu o espaço, e o Fantasma foi subitamente paralisado, a energia que envolvia seu corpo congelada por um instante. Era a oportunidade que eles precisavam. O espadachim avançou, desferindo um golpe preciso na figura distorcida do Fantasma, atravessando sua forma espectral com uma lâmina de energia concentrada. O Fantasma urrou, seu riso se transformando em um grito de dor, e sua forma tremulou como uma vela ao vento.

Pica...Deiro

Enquanto o Fantasma era contido pelo ataque, Liftania, ao lado da caçadora de sombras, encontrou o pequeno palhaço de pelúcia dentro do baú, rasgado e coberto de poeira. Liftania segurou o brinquedo com cuidado, seus dedos tocando os rasgos e sujeiras. Ela sentiu um calafrio ao perceber que aquele objeto, simples e esquecido, era a raiz de toda a tristeza e loucura que preenchia o circo.

-Eu entendo agora... você só queria ser amado, murmurou Liftania, e começou a remendar o pequeno palhaço com "Magia", restaurando as partes desgastadas, enquanto a caçadora mantinha as marionetes à distância. Liftania, logo que pegou o palhaço, percebeu que poderia afetá-lo com sua imaginação, assim como afetava a própria Zara. Assim com amor começou a concertar a pelúcia distorcida. Porém o fantasma não permitiria isso assim tão facilmente e por isso mais e mais marionetes se jogavam em direção a dupla, com a caçadora se esforçando para cortar os cordões que as controlavam.

O Fantasma, sentindo sua conexão ao mundo se enfraquecer, lançou um último olhar desesperado para o palco, onde o trio de guerreiros o pressionava, e para Liftania, que segurava a chave de sua libertação. Seus movimentos tornaram-se erráticos, perdendo a precisão de antes. Ele tentava desferir ataques desesperados com a lona do picadeiro, erguendo-a como uma barreira que envolvia sua forma e se movendo como uma criatura acossada, mas cada golpe seu era desviado, cada defesa quebrada pelas investidas coordenadas do grupo.

O picadeiro estava agora transformado em uma arena de luz e sombras, mas o ambiente já não mudava mais como antes. A distorção do espaço enfraquecera, e o palco se mantinha firme. E enquanto Liftania terminava seu trabalho, o Fantasma finalmente percebeu que a sua última atuação estava chegando ao fim.

Zara, a maga e o espadachim uniram forças em um ataque final, rompendo a última barreira de sombras do Fantasma Risonho, forçando-o a recuar para o centro do palco. O sorriso antes ameaçador agora parecia uma máscara cansada, enquanto ele encarava os inimigos diante de si.

- O espetáculo termina... aqui... murmurou o Fantasma, sua voz se apagando como um eco distante. E, em um último suspiro, sua forma tremulante começou a desvanecer, enquanto Liftania segurava o pequeno palhaço de pelúcia restaurado em seus braços envolta em uma luz calorosa.

Pica...Deiro

Enquanto o Fantasma Risonho se desfazia, sua forma espectral fragmentando-se em milhares de pedaços de luz pálida, o ambiente ao redor começou a tremer. O picadeiro que antes os envolvia começou a perder sua solidez, como uma pintura que derrete sob uma chuva forte. As lonas de circo, as cadeiras fantasmagóricas, os refletores tremulantes, tudo começou a desaparecer, dissolvendo-se em um borrão de cores que se dissipava no ar.

Zara, Liftania, a maga, a caçadora e o espadachim, que ainda segurava sua espada com firmeza, sentiram o chão vacilar sob seus pés, como se o próprio mundo estivesse desmoronando. A sensação era de serem puxados de volta, como se uma força invisível estivesse desfazendo a distorção que havia mantido o circo à parte do resto do mundo.

O ar ao redor tornou-se frio e claro de repente, e o som abafado do picadeiro deu lugar ao som da noite—o vento uivando nas árvores, a respiração pesada de cada um dos membros do grupo. Quando o mundo parou de girar, eles se encontraram de volta à frente dos portões do forte, sob o céu noturno, agora livre das sombras pesadas que antes cobriam a região. A lua cheia brilhava lá no alto, como uma sentinela silenciosa.

Ao redor deles, as cinquenta pessoas que haviam desaparecido começaram a surgir, desabando no chão em pequenos grupos, como se tivessem sido despejadas de uma grande altura. Algumas estavam inconscientes, respirando de forma ritmada, enquanto outras se erguiam lentamente, os rostos tomados por confusão e espanto. Alguns se agarravam ao próprio corpo, tremendo com a súbita mudança de ambiente, e outros murmuravam incoerências, desorientados pela experiência sobrenatural que haviam vivido.

Liftania ainda segurava o pequeno palhaço de pelúcia, agora restaurado, próximo ao peito. Ela olhou para ele, sentindo uma estranha tristeza se misturar ao alívio. O brilho nas sombras de seus olhos parecia refletir a compreensão de que, de certa forma, eles haviam libertado algo perdido entre o ódio e o sofrimento. Ela abaixou a cabeça por um momento, murmurando palavras silenciosas de despedida ao espírito que, por tanto tempo, se agarrara àquele pedaço de pano.

Os gritos dos guardas nas muralhas do forte ecoaram pela noite. Eles apontavam para os recém-chegados, exclamando com surpresa ao ver o grupo e as pessoas resgatadas. As palavras eram difíceis de distinguir, mas a emoção era clara—alívio e esperança tomavam conta das vozes que se misturavam no ar frio da noite.

Um dos guardas ergueu uma trompa e soprou um chamado agudo, e em poucos instantes, os portões de ferro do forte começaram a ranger enquanto se abriam, revelando a figura imponente de seu capitão. O capitão vampiro avançou com passos firmes, a capa esvoaçando às suas costas, seu olhar sério fixo nos heróis à sua frente.

Ele era alto, de pele pálida e olhos vermelhos que brilhavam sob a luz da lua, contrastando com a expressão severa que sempre mantinha. Mas, naquele momento, havia algo a mais em sua face—um leve e raro sorriso de aprovação que suavizava suas feições normalmente duras.

- Vocês conseguiram, - ele falou, a voz carregada de respeito e uma pontada de orgulho. - Trouxeram todos de volta. Seus olhos passaram pelas figuras desmaiadas no chão, antes de voltarem para o grupo. Ele fez um leve movimento com a cabeça, um gesto quase reverente. - Uma vitória digna de ser celebrada.

Ele se aproximou de Zara, que ainda respirava com dificuldade, mas mantinha-se de pé. Embora um de seus braços pendesse frouxamente ao lado do corpo. Claro que isso era visto apenas por Liftania, para os demais Zara parecia simplesmente brilhante e altiva, como se todo aquele confronto mal tivesse lhe exigido algum esforço. - Você lutou bravamente, Knight. Não cedeu mesmo quando as sombras pareciam invencíveis." Depois, seu olhar foi para Liftania, que ainda segurava o palhaço. - E você, criança, encontrou o coração perdido entre as trevas.

Os soldados, que desciam apressadamente das muralhas, começaram a ajudar os recém-resgatados, conferindo seus sinais vitais e tentando trazê-los de volta à consciência. Os sussurros de incredulidade se espalhavam entre eles—poucos acreditavam que as pessoas poderiam ser trazidas de volta depois de desaparecerem tão completamente.

Zara deu um passo à frente, segurando sua lança fincada ao chão para se manter de pé, e inclinou a cabeça levemente em direção ao capitão. A lança lhe servia de apoio, mas para os outros pareceu como um gesto bravo de pura determinação. - Fizemos o que precisava ser feito. E o que ainda precisamos fazer, estamos prontos para enfrentar. - Sua voz estava rouca, mas ainda carregava a firmeza de sempre, um reflexo de sua força inabalável.

Liftania finalmente olhou para o capitão, seus olhos brilhando com uma chama mais suave. - Espero que agora, o Fantasma encontre a paz que lhe foi negada por tanto tempo, disse ela, antes de entregar o pequeno palhaço de pelúcia para o capitão, que aceitou o objeto com um aceno solene.

O capitão observou por um momento o palhaço em suas mãos, parecendo ponderar o peso daquela história trágica, antes de guardá-lo em uma bolsa. - Ele terá seu descanso. E vocês... terão sua recompensa. Agora, descansem, vocês merecem.
Os portões do forte permaneceram abertos, enquanto os heróis e os resgatados eram conduzidos para dentro. A noite, que antes parecia tão opressiva e cheia de mistérios, agora carregava um sentimento de encerramento, como se as sombras finalmente tivessem se retirado para um lugar de onde não poderiam mais voltar.

- Mais uma coisa capitão… Como você sabia que o monstro tinha uma fraqueza dessas? - O capitão vampiro apenas olhou para Zara e deu dois tapinhas na bolsa. - Isso é…